“Não mandei matar a Marielle. A PF está me fazendo sangrar”, diz o político.
Domingos Brazão, político de longa carreira no Rio de Janeiro e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCRJ), negou em entrevista exclusiva ao Metrópoles ter ordenado o assassinato da vereadora Marielle Franco. Citado nas investigações há mais de três anos, ele afirma que o progresso do caso foi lento até a intervenção da Polícia Federal em 2023.
A pressão sobre Brazão intensificou-se após relatos de que teria sido apontado pelo PM reformado Ronnie Lessa como o mandante do crime, ocorrido em 2018, que também resultou na morte de Anderson Gomes, motorista de Marielle. A delação de Lessa ainda aguarda confirmação judicial.
Para Brazão, o PSol teria sido o maior beneficiário do assassinato da vereadora. Vindo de uma família de políticos, ele nega qualquer conhecimento ou relação com Lessa, Élcio (que admitiu ter dirigido o veículo usado no atentado) e a própria Marielle Franco, assim como qualquer envolvimento com milicianos.
Em sua declaração ao Metrópoles, Brazão expressa confiança em relação à investigação, sugerindo que a menção ao seu nome pode ser uma manobra dos verdadeiros responsáveis pelo crime para desviar a atenção. Ele levanta a possibilidade de que a própria Polícia Federal esteja usando seu nome como parte de uma estratégia de investigação para surpreender a todos com os resultados finais.
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Leia trechos da entrevista para o site Metropoles:
Brazão, você mandou matar Marielle Franco?
Nem ela nem ninguém, graças a Deus. Eu nem conheci a Marielle Franco. Fui conhecer a Marielle Franco após esse trágico assassinato aí.
Você mandou matar alguém?
Já te respondi isso na primeira pergunta. Nem ela nem ninguém, graças a Deus.
Você conhecia o Élcio?
Não, nunca nem vi ele [sic]. Eu, pelo menos, nunca vi esses caras. Nunca vi, nunca fui apresentado, nada.
E o Lessa?
Também não, graças a Deus.
Você conhece muita gente no Rio. Não é curioso não ter nunca visto essas pessoas?
Talvez porque a minha última eleição foi em 2014. E esses caras, pelo que a gente ouve falar, chegaram em Jacarepaguá depois disso, entendeu?
Você tem ligação com a milícia?
Não, nunca tive. Já fui investigado nisso dezenas de vezes, dezenas e dezenas de vezes.
Há rumores de que o seu nome foi citado tanto na delação do Élcio quanto na delação do Lessa. Por que iriam te citar em vão?
São duas coisas distintas. Eu não sei se realmente eles citaram o meu nome. Esse é o primeiro ponto e vamos tratar disso. O segundo ponto é que, se citaram, não sei com que intenção, então não sei se é uma manobra aí. Isso aí eu, eu, não posso julgar, não sei o que foi feito.
Eu quero te dizer: você não tá tirando meu sono, não, tá? Tá me aborrecendo, mas não tá tirando meu sono não. Tenho fé em Deus, acredito na Justiça. Se estão falando meu nome para proteger alguém, o desafio das autoridades vai ser sentar e entender quem estão protegendo. Certo? Ou, a outra hipótese que pode ter é a própria Polícia Federal estar fazendo um negócio desse, me fazendo sangrar aí, que eles devem ter uma linha de investigação e vão surpreender todo mundo aí. Não posso pensar em outra coisa. Não tenho medo de investigação. Não conheço essas pessoas. Nunca vi essas pessoas. Mas eu não vou perder o foco, vou continuar trabalhando. Já me aborreceram.
O que o senhor acha da hipótese de que caciques do PMDB estavam com raiva de Marcelo Freixo por ter supostamente ajudado a Lava Jato a prender o ex-presidente da Alerj Jorge Picciani, assim como o filho dele? E que, por isso, houve uma ordem para executar Marielle como recado ao Freixo?
Quer dizer, então, que eu sou o bandido? As pessoas querem matar alguém e me procuram? Picciani me procurou para várias coisas, para fazer campanha, para o Senado, para tudo. Então, sou o cara? Me escondo… Essa não cola. Estão dando superpoder ao Freixo, o que só interessa ao PSol. Essas coisas não colam. O que eu posso dizer disso é que é uma grande bobagem. É um troço descabido.
Qual a sua relação com Freixo?
Não tenho relação nenhuma com o Freixo, mas acho que ele não me via como inimigo. Porque, na eleição de governador, por exemplo, eu estava em Teresópolis (RJ), em uma churrascaria. E estavam o Freixo, um prefeito hoje de Maricá (RJ), acho que o Joãozinho, presidente do PP, e uma outra pessoa que não conheço. E eles vieram à minha mesa e o Freixo pediu meu telefone, falou que não tinha mais o meu número. ‘Pô, armazena aí teu número’. Não sei se é porque candidato em época de eleição, antes de época de eleição, até no inferno as pessoas ficam simpáticas.
Outro dia encontrei o Freixo, isso já deve ter uns quatro meses. Fui encontrar o André Ceciliano, o ex-deputado e presidente da Alerj, aqui no restaurante Albamar. Chegando lá encontrei o Freixo e o Lindbergh. Me abraçaram e falaram comigo normalmente.
Freixo foi deputado comigo, eu já era deputado quando o Freixo foi deputado. Ele fazia o papel dele no PSol. Eu disse que o Picciani era mais aliado do Freixo do que meu.
O Picciani tem mais projetos de coautoria com o Freixo do que comigo. O Picciani sempre prestigiou o Freixo. Tanto prestigiou que criou várias comissões.
Acho que isso aí não cola. Não posso imaginar que o Freixo caia nessa panela aí.
Acredito que eleitoralmente isso interessa ao PSol. O PSol não faz obra, o PSol não troca lâmpada, o PSol não bota asfalto, o PSol não emprega na prefeitura nem em qualquer lugar. O PSol vive dessas coisas, mas não acredito que chegue a tanto. Eu acho que isso dentro do contexto político, a gente pode fazer uma guerrinha.
Ninguém tirou mais proveito da morte da Marielle do que o PSol. Isso é um fato. Não é porque o PSol queira se aproveitar disso. É porque vitimiza e está lá. Não era o PMDB, não era ninguém. Isso é conversa fiada de político que não cola.