No final de dezembro de 2019, o National Institutes of Health, localizado em Bethesda, Maryland, Estados Unidos, recebeu oito páginas de código genético de um novo vírus, enviadas por cientistas chineses. A informação foi revelada pelo jornal estadunidense The New York Times.
Este código, que posteriormente se revelaria crucial na compreensão da pandemia de Covid-19, continha informações sobre um vírus que havia infectado um homem de 65 anos em Wuhan, China.
A submissão do código genético, que ainda não havia sido identificado como uma ameaça iminente pelas autoridades chinesas, foi recebida sem o conhecimento dos funcionários dos EUA sobre seu potencial impacto.
O repositório americano, projetado para facilitar o compartilhamento de dados de pesquisa, não adicionou imediatamente as informações ao seu banco de dados, solicitando detalhes técnicos adicionais aos cientistas chineses, os quais não responderam ao pedido.
Foi somente duas semanas depois que virologistas australiano e chinês colaboraram para publicar o código genético online, acelerando os esforços globais para desenvolver testes e vacinas. Este atraso na divulgação das informações levantou questões sobre as falhas no sistema dos EUA de monitoramento de novos vírus.
Os esforços iniciais dos cientistas chineses para compartilhar o código foram revelados em documentos divulgados por republicanos da Câmara investigando as origens da Covid. Estes documentos questionam a rapidez com que a China informou sobre o vírus e apontam lacunas no sistema de vigilância dos EUA.
O governo chinês afirmou ter compartilhado o código genético prontamente, mas os republicanos sugeriram o contrário. Além disso, registros de notícias e postagens em redes sociais chinesas indicam que o vírus foi sequenciado pela primeira vez no final de dezembro de 2019.
Cientistas independentes observaram que os documentos fornecem detalhes novos sobre a tentativa dos cientistas de compartilhar as sequências globalmente. Jeremy Kamil, especialista em vírus da Louisiana State University Health Sciences Center Shreveport, comparou a importância de dar atenção especial a tais sequências com a urgência de uma ambulância em tráfego.
Um porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, que inclui o NIH, declarou que o código genético não foi publicado inicialmente devido à falta de verificação e resposta do cientista chinês. A sequência foi removida automaticamente da fila de sequências não publicadas do GenBank em 16 de janeiro de 2020, após não receber a resposta solicitada.
Ainda não está claro por que os cientistas chineses não responderam. Lili Ren, um dos cientistas envolvidos, não respondeu a um pedido de comentário. A embaixada chinesa defendeu a resposta da China como “baseada em ciência, eficaz e consistente”.
Posteriormente, a mesma sequência enviada ao GenBank foi publicada em outro banco de dados online, o GISAID, em 12 de janeiro de 2020. Os cientistas também reenviaram uma versão corrigida do código ao GenBank no início de fevereiro.
Especialistas como Jesse Bloom, do Fred Hutchinson Cancer Center em Seattle, afirmaram que a sequência genética sugeriria fortemente a existência de um novo coronavírus em Wuhan já no final de dezembro de 2019. O atraso na disponibilidade dessa informação, segundo Bloom, atrasou o início do desenvolvimento de vacinas protótipo.
Os documentos não esclarecem a origem do vírus, mas destacam o rápido trabalho da equipe de Ren na sequenciação do vírus. A amostra analisada foi coletada de um paciente de 65 anos em 24 de dezembro de 2019 e os dados foram enviados ao GenBank em quatro dias.
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