Transformação no comércio global: A ascensão da parceria Brasil-China e o declínio dos EUA

RICARDO STUCKERT

Nas últimas décadas, o panorama da produção global de cereais e grãos sofreu mudanças significativas.

Enquanto os Estados Unidos já foram líderes incontestáveis nesse segmento, hoje enfrentam uma notável perda de posição. Na década de 1970, detinham 90% do mercado de soja mundial, mas essa fatia reduziu-se para 28%.

Em contrapartida, o Brasil emerge como um gigante no setor. Iniciando os anos 2000 com exportações de 27 milhões de toneladas de soja, o país alcançou impressionantes 102 milhões em 2023.

Esse crescimento resultou em uma participação de 58% no mercado externo de soja, superando significativamente os Estados Unidos.

Um fator chave para essa mudança foi o aumento do consumo na Ásia, especialmente o crescimento da classe média chinesa.

A China, em sua busca por alimentos diversos, desde proteínas até grãos, mostrou preferência pelos produtos agrícolas brasileiros quando disponíveis.

Especificamente em relação à soja, a China importou 21 milhões de toneladas duas décadas atrás, número que saltou para 100 milhões no ano passado. Do total importado, 75 milhões de toneladas provieram do Brasil.

O milho é outro exemplo notável. Na década de 1980, os Estados Unidos lideravam com 84% do mercado externo.

Atualmente, essa participação caiu para 24%, enquanto o Brasil avançou, alcançando entre 29% e 32% do mercado mundial na safra 2023/2024.

A aprovação do milho brasileiro pelos chineses há dois anos impulsionou essa mudança, com 29% do total exportado pelo Brasil em 2023 sendo adquirido pela China.

O trigo também reflete essa tendência. Os Estados Unidos, que possuíam 40% do mercado mundial na década de 1970, estão projetados para ter apenas 9% na safra atual.

Enquanto isso, Rússia e União Europeia avançam, com previsões de exportação de 51 milhões e 36 milhões de toneladas, respectivamente.

No segmento de proteínas, a parceria China-Brasil e a redução da presença norte-americana também são evidentes.

Nos anos 2000, os Estados Unidos detinham 19% do mercado internacional de carne bovina, número que deve cair para 10% este ano.

O Brasil, por sua vez, atingirá um quarto do mercado mundial. Similarmente, no setor de frango, o Brasil aumentou sua participação de 17% para 36%, enquanto os EUA caíram de 44% para 24%.

Os chineses, que até 2012 não figuravam entre os principais compradores, lideraram as importações nos anos recentes, com a previsão de comprar 3,55 milhões de toneladas de carne bovina em 2024.

Essa crescente participação chinesa no mercado brasileiro foi crucial para o aumento da presença do Brasil no cenário mundial.

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