Há mais de 100 anos, durante o genocídio na atual Namíbia, os Herero e os Nama perderam muitas terras e animais. Até hoje, estão à espera de recuperar os seus terrenos. Pedem compensações.
O genocídio na Namíbia fez com que os antepassados de Johannes Matroos ficassem sem as suas terras. Matroos é um dos líderes tradicionais do povo Nama. Nasceu em Heiraxabis, no entanto, e por “causa do genocídio”, os terrenos que o seu clã detinha há um século já não lhe pertencem.
Em 1904, os povos Herero e Nama revoltaram-se contra o Governo colonial alemão, e as tropas germânicas dizimaram os revoltosos. Estima-se que, até 1908, tenham morrido mais de 75.000 hereros e namas. Outras fontes falam inclusive em 100 mil mortos. Só há cerca de dois anos atrás é que o governo alemão se referiu a estes crimes, e pela primeira vez, como “genocídio”.
Para o clã de Matroos, uma guerra terminou em 1906, altura em que assinou um acordo de paz com o exército colonial alemão. No entanto, a paz teve consequências que se prolongaram até aos dias de hoje.
Como conta Johannes Matroos, “depois do tratado de paz, em que entregamos as armas, pedimos para sair daqui, de Heiraxabis, para Warmbad e Heibxabis. E perdemos as nossas terras”. Hoje, as terras do local onde nasceu Matroos são propriedade da Igreja Católica. A maior parte é explorada por agricultores comerciais.
O Governo da Namíbia tem tentado comprar os terrenos para distribuir por quem não os tem. Mas o processo é moroso. O líder do povo Nama não esconde o seu ceticismo. “Esta questão das terras ainda não foi discutida – nós queremos as nossas terras de volta. Mas o Governo só fez este programa de reassentamento, que não serve para nós, porque não recuperaremos terras”, afirma.
Povos esperam compensações
Alguns líderes tradicionais dos povos Herero e Nama reclamaram contra a Alemanha num tribunal em Nova Iorque, nos Estados Unidos, exigindo uma indenização pelo genocídio da era colonial. Ainda não se sabe se o pedido foi aceito. Johannes Matroos espera que sim, para conseguir comprar os terrenos e criar uma base de sustento para a sua comunidade. “Esperamos ser bem sucedidos no caso das compensações com o Governo alemão, para podermos ter terras e desenvolver o nosso povo”, reitera.
Outro representante dos Nama, Salomon David Isaack, diz que o Governo namibiano também deve prestar contas. Isaack apela a um diálogo entre os proprietários das terras, o Governo e os sem-terra. Segundo Isaack, “há cidadãos sem terrenos que têm direito a eles” e que “pedem ao Executivo que encontre soluções”. “Sem a participação de todos, não haverá um desfecho ambiental”, afirmou.
Isaack espera também que a Alemanha desempenhe um papel importante em relação à questão das terras. Até porque, segundo ele, o atraso econômico de muitas comunidades deve-se às expropriações forçadas durante o tempo colonial. Isaack não diz, concretamente, o que a Alemanha pode fazer. Diz apenas que “é preciso que se leve esta questão a sério e que se ajude a resolver este problema”.
Publicado originalmente no DW
Por Christian Selz