Uma das grandes características do racismo é a segregação física de espaços sociais que diferenciam diretamente a população negra da população branca.
É impossível não pensar, por exemplo, na segregação racial dos EUA e naqueles bebedouros e banheiros para “pessoas de cor” que vivem aparecendo por aí. Ou mesmo na estrutura de moradia no Brasil que separa negros e brancos em quartinhos de empregada ou elevadores sociais e de serviço até os dias de hoje.
Foi com o racismo no caso de elevadores, por exemplo, que Jorge Aragão deu vida a um clássico do samba brasileiro chamado “Identidade”. Na música, o sambista deixa claro como a negação da força identitária de raça é fator de segregação, sofrimento e desrespeito com a herança coletiva do povo negro.
Pois bem, essa segregação espacial também atinge escalas maiores, como se pode observar na estrutura de uma cidade. Banheiros, bebedouros e elevadores dão lugares a ruas, barracos e bairros que também foram construídos sob uma ideia concreta de segregação populacional.
E esse padrão de coexistência entre brancos e negros nas cidades é bem sólido: enquanto a população negra vive majoritariamente nas periferias e áreas de risco, a população branca vive nas áreas nobres e abastadas dos municípios.
Daí, quando a segregação municipal encontra a fúria da natureza – como tempestades, ventanias e deslizamentos de terra – se tem a concretização do que é racismo ambiental: as condições de vida de uma raça são proporcionais à vulnerabilidade que essa raça vive frente a tragédias ambientais.
E quem duvida disso é só se ligar nas notícias sobre as chuvas que castigam a região metropolitana do Rio de Janeiro e ver a cor preponderante de pele que aparece nas fotos e vídeos dessa calamidade. Sem dúvidas, a população negra é preponderante entre as vítimas das tempestades.
Não vai existir justiça nem social, nem racial e nem de nenhum tipo enquanto a diferença geográfica for fator direto de desigualdade social e qualidade de vida.
Por isso, como nos ensinou o bamba Aragão, não podemos ceder nossa vez no elevador social. Denunciar a desigualdade do racismo ambiental é, sobretudo, um grito de resistência daqueles que foram açoitados e explorados por séculos e, por consequência, não possuem sequer um lugar de moradia decente até os dias de hoje.