Os Barômetros Globais divulgados ontem (10/1) pelo FGV IBRE corroboram a tendência observada nas análises da virada do ano de mais otimismo quanto à economia mundial, apesar das perspectivas de desaceleração, como observado pelo Banco Mundial em seu relatório Perspectivas Globais. No documento, o Banco prevê um crescimento de 2,4% para o PIB do mundo em 2024, frente a 2,6% em 2023.
Aloisio Campelo Jr, superintendente de Estatísticas Públicas do IBRE, responsável pela divulgação dos Barômetros, destaca que o Barômetro Antecedente, que mede a perspectiva para a economia no horizonte de três a seis meses, alcançou seu melhor nível desde agosto de 2021, atingindo 111,1 pontos, subindo 5,1 pontos em relação a dezembro de 2023. Quanto ao Barômetro Coincidente, que mede a situação atual, o resultado ainda se encontra abaixo do nível neutro de 100 pontos, em 94,5 pontos, depois de uma alta 2,5 pontos em relação ao mês anterior.
Em ambas as perspectivas – presente e futura – é a Ásia quem lidera a alta. Maior otimismo com a economia chinesa? Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, afirma que alguns indicadores de dezembro da economia chinesa dão sinais “moderadamente positivos”, tanto para o setor de serviços quanto para a indústria, “abrindo caminhos um pouco mais otimistas para o início de 2024”. Ele ressalta, entretanto, que há divergência de resultados entre os dados qualitativos da pesquisa oficial (NBS) e da privada (Markit/Caixin), sendo esta última mais positiva, e que os indicadores de inflação e crédito do período, ainda por serem divulgados, deverão colaborar para a calibragem desses dados. Ribeiro estima um aumento do crescimento chinês no último trimestre de 2023 para 5,4% na projeção interanual, 0,2 ponto percentual maior em relação à estimativa anterior, e expansão de 5,3% para o ano.
Para 2024, o pesquisador projeta um crescimento de 4,4%. “A economia chinesa não está de vento em popa. Posicionamentos recentes do governo, além dos dados de alta frequência, sugerem que uma alta do PIB de 5% é difícil para 2024, aproximando essa perspectiva para 4,5%”, diz. “Trata-se de algo sobre o qual temos cometnado há algum tempo, de que os limites de crescimento da economia chinesa são mais estreitos do que no passado, que a transição de uma economia apoiada no setor imobiliário para uma economia ‘verde’ não é algo rápido, e que essa transição vai gerar uma redução de crescimento”, afirma, reforçando que a melhora da perspectiva econômica no final de 2023 não é suficiente para elevar a perspectiva do PIB deste ano. “Saberemos em março se o governo chinês reconhecerá de fato esses desafios quando anunciar a meta de crescimento para este ano. Parece-me inconsistente manter uma meta igual à do ano passado, de 5%, pois os dados mostram claramente uma economia em dificuldade.” Ribeiro ainda reforça que, do lado do comércio exterior, o horizonte também é menos virtuoso que no passado. “Temos uma combinação de um mundo que demanda menos bens industriais e mais serviços, e que demanda menos China, em parte por um aumento de resistências ao país. A China consegue resolver esse segundo problema com triangulações, produzindo em outros países asiáticos e exportando de lá, mas para o primeiro não há muita solução.”
Quando à melhora geral do humor quanto à economia global, o pesquisador do FGV IBRE repete o alerta feito em artigo para o especial Perspectivas 2024 da Conjuntura Econômica de janeiro em que aponta a perspectiva de alta volatilidade que ainda se poderá perceber no caminho de reversão do ciclo de aperto monetário nas principais economias. “O corte de juros operado pelo FED não fará a economia dos EUA crescerem no curto prazo, pois os canais de transmissão não são tão rápidos. Uma coisa é o mercado acionário andar, outra é a absorção crescimento americano e global andarem. Isso não deve acontecer em 2024 mesmo com cronograma de corte de juros relativamente agressivo no início do ano”, afirma, indicando que esse movimento, se não houver qualquer turbulência no caminho, deverá acontecer mais para a virada de 2024/25. Ribeiro afirma que a virada de humor do comitê de política monetária americano no final de 2023 ainda gera dúvidas que precisam ser decantadas. “A mudança surpreendeu até ao mais dovish a respeito da política monetária americana. Ninguém olha para os dados da inflação e enxerga um colapso que justifique um cavalo de pau espacialmente com as divulgações em novembro e dezembro”, diz. “Ou o FED está priorizando abertamente um cenário de estímulo à atividade em detrimento do combate à inflação – com o risco de contratar um problema de inflação mais perene – ou está identificando dum problema na atividade que ainda não está no radar do mercado”, afirma Ribeiro, sinalizando que a virada para um hard landing ainda é a alternativa menor provável.
Os dados dos Barômetros Globais também apontam à cautela, afirma Campelo. Nesse caso, o alerta se dá pela ampla distância entre os Barômetros Coincidente e Antecedente. “O Barômetro Coincidente continua rodando abaixo da média dos últimos dez anos, enquanto o Barômetro Antecedente sinaliza um otimismo que pode fazer sentido para o horizonte relevante da pesquisa (três a seis meses à frente), mas parece difícil de se sustentar ao longo de todo o ano”, conclui.
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Publicado por Solange Monteiro – Conjuntura Econômica – Rio de Janeiro em 11/01/2024