Por Esmael Morais
“Deus deu um par de asas para quem sabe voar e um par de chifres para o bolsonarismo em SP“, brinca um graduado petista no Palácio do Planalto, fazendo um trocadilho com uma frase atribuída ao ex-prefeito Jânio Quadros, ao comentar a definição de Marta Suplicy na vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em outubro próximo.
Segundo a anedota, Jânio Quadros (1917-1992) teria sido convocado para demover um marido traído que ameaça se atirar de um arranha-céu – e foi lacônico com moço que sofria de amor: “Meu filho, o que Deus te arrumou foi um par de chifres, não um de asas.”
Dito isso, a escolha de Marta, com a entrada do presidente Lula no jogo, repercutiu como uma chifrada e um verdadeiro terremoto no bolsonarismo paulistano.
Lula recebeu a ex-prefeita de SP nesta segunda-feira (8/1), em Brasília, no Palácio do Planalto.
Marta Suplicy, uma figura notória na política paulistana, tem uma trajetória repleta de nuances.
Ex-prefeita de São Paulo (2001-2004) e membro do PT por 33 anos, Marta demonstrou uma habilidade única em navegar pelas águas turbulentas da política.
A sua saída do PT em 2015 marcou um divisor de águas, após ocupar cargos como deputada, senadora e ministra da Cultura e do Turismo.
Sua posição atual como secretária de Relações Internacionais, sob a gestão de Ricardo Nunes (MDB), prefeito que buscará reeleição, coloca-a no epicentro de um xadrez político complexo.
A permanência de Marta na prefeitura sob Nunes é vista por muitos como um erro estratégico grave, especialmente considerando sua aproximação com Lula e o PT.
A narrativa bolsonarista sugere que Nunes falhou em antecipar a “traição política” de Marta, que agora se alia a Boulos e ao PT, criando um cenário adverso para o bolsonarismo.
O convite de Lula para um café da manhã com catadores de lixo em São Paulo em dezembro, evento que contou com a presença de Marta, já simbolizava essa reaproximação.
Essa dinâmica sugere uma fragilidade na gestão de Nunes, que agora enfrenta a pressão de responder à mudança de cenário político.
Nas eleições de 2020, Marta apoiou a chapa Bruno Covas (PSDB) e Ricardo Nunes, uma escolha que na época parecia consolidar sua posição no cenário político de São Paulo.
A morte de Bruno Covas em 2021 e a subsequente ascensão de Nunes ao posto de prefeito, com Marta a seu lado, parecia solidificar ainda mais essa aliança. No entanto, o cenário político é sempre imprevisível.
A decisão de Ricardo Nunes de integrar Marta Suplicy em seu governo, agora vista como um erro estratégico, reflete a complexidade da política paulistana.
A iminente eleição de outubro, com Marta alinhada a Boulos contra Nunes, promete ser um capítulo intenso e decisivo na política de São Paulo.
A trajetória de Marta, marcada por reviravoltas e realinhamentos, simboliza a imprevisibilidade da política brasileira.
A situação atual evidencia não apenas a volatilidade da política local, mas também as sutilezas do poder e as estratégias que definem o cenário político brasileiro.
Enquanto a eleição se aproxima, a crise no bolsonarismo de São Paulo, exacerbada pela aliança de Marta com Boulos, delineia um novo capítulo na história política da cidade, repleto de incertezas e expectativas.
A chapa Boulos-Marta, se confirmada, poderá representar a volta do PT no comando da maior cidade da América do Sul.
Além disso, o risco de derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em SP poderá ter reflexos gravíssimos em outras capitais e cidades médias no país.
Portanto, siga acompanhando essa questão de perto pelo Blog do Esmael – a política como ela é em tempo real.
Publicado originalmente no Blog do Esmael