Embora tenha quem acredite que o ministro Fernando Haddad (fazenda) possa ser atingido pelas críticas de setores mais à esquerda e do próprio PT por conta da agenda fiscalista do ministro, o fato é que o governo federal e principalmente o presidente Lula, estão fechados com o Haddad.
Só tem um porém: a agenda de ajuste fiscal tem prazo de validade, sem fazer qualquer juízo de valor, ela dura até o período eleitoral do país. Duas coisas não reelegem presidentes: uma economia ruim ou uma economia fria por conta de cortes em investimentos.
Um interlocutor do governo, em conversa com a coluna, foi incisivo ao lembrar que o que reelegeu o Lula em 2006 foi o investimento social e não a agenda fiscalista do então ministro Antônio Palocci e que na sequência Lula “surfou no boom das commodities e a Dilma entrou de graça, e se reelegeu com a lógica “despesa corrente é vida””. Não é por menos que há um consenso na análise política que o golpe de morte no combalido segundo mandato da ex-presidente Dilma foi a adesão ao ajuste fiscal do então ministro Joaquim Levy.
Com as eleições municipais vindo aí e o apetite do Congresso Nacional com as emendas cada vez mais crescente, o governo vem fazendo um verdadeiro malabarismo para conseguir manter a economia aquecida, mérito do ministro Haddad, mesmo que com um prazo de validade.
As críticas internas do governo e do PT ao ministro estão principalmente em dois horizontes: as eleições regionais deste ano e as eleições federais de 2026. Não por menos havia uma ala expressiva da base governista defendendo que a ministra Simone Tebet (Planejamento) fosse para a Justiça, para que desse lugar para algum nome mais desenvolvimentista, tudo isso visando um rio de investimentos públicos com olhos nas eleições deste ano.
Porém para Lula a preocupação é apenas a eleição de 2026, é aí que Lula e Haddad podem ter a relação estremecida a depender de como estiver a economia. Ainda assim, Lula sabe que o desenvolvimento do país passa inevitavelmente por investimentos, sejam eles em infraestrutura, serviços, assistência social e afins e é aí que entra a infindável fome do Congresso pelas emendas e o malabarismo do Haddad ao mesmo tempo que Lula também faz uma espécie de equilibrismo.
Gleisi e o PT não estão distantes de Lula, tampouco Haddad. Lula está no meio dos dois pontos. Não por menos, em outubro do ano passado, ele deu um freio de arrumação no discurso sobre investimentos públicos e meta fiscal, prevento um novo “Joaquim Levy”, deu um chega pra lá nos discursos fiscalistas e falou diretamente com a imprensa sobre isso.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer. O que posso dizer é que ela não precisa ser zero. A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse País”, disse Lula durante um café da manhã com a imprensa. Dias depois já estava aos braços e abraços com a Haddad.
As criticas e rebatidas entre Haddad e seus críticos são apenas pare do bom e velho jogo político, é natural que aconteçam e devem acontecer, nem sempre Haddad estará certo ou errado, assim como quem o critica. Gleisi como presidente do PT cumpre o seu papel ao se preocupar com como a meta fiscal irá impactar as eleições municipais, principalmente se o partido do presidente tiver um mal desempenho nas urnas, assim como cumpre os seus respectivos país, Lula e Haddad e o controle da meta fiscal.
Por isso é possível afirmar que Lula tem um pé nas duas canoas.
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