Em 2023, no que diz respeito à economia, o primeiro ano de governo do presidente Lula conseguiu se sair muito bem. Os índices de inflação e desemprego caíram para níveis mais baixos nos últimos anos, com a inflação acumulada em 12 meses caindo para 7,5% e o desemprego caindo para 8%.
Essa leva de bons resultados econômicos ao longo de 2023 é mostrada também nas diversas revisões que foram realizadas nas previsões sobre Produto Interno Bruto (PIB). O relatório Focus (uma espécie de carta do mercado com torcidas e pouca análise técnica) divulgado semanalmente pelo Banco Central, no começo do ano, indicava um crescimento inferior a 1%. Agora as previsões já chegam em 3%.
O governo não mediu esforços e levou à ferro e fogo um pacote de medidas econômicas e fiscais, que, apesar do Congresso Nacional, foi aprovada.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), seguiu à risca as orientações e diretrizes do presidente que tinha a economia como prioridade zero, o que pode ter “prejudicado” outros setores do governo.
Um exemplo disso é a comunicação do governo que, até o momento, não conseguiu fazer com que os bons resultados da economia chegassem à população como um todo. O governo também passou quase todo o ano passado com dificuldades e ruídos na comunicação. De ministros e membros do governo falando demais, passando até mesmo por não saberem o que falar.
Sobre isso, conversei com o doutor em antropologia e podcaster Orlando Calheiros, que fez a seguinte observação sobre as dificuldades do governo em se comunicar:
“A incapacidade do governo de promover a sua agenda positiva é, de fato, um dos principais fatores, mas é importante salientar também como o ecossistema da direita continua forte e atuante, assuntos como corrupção e segurança pública (pontos fortes desse ecossistema) continuam influenciando a opinião pública.”
Outro reflexo disso é a defesa da democracia que acabou ficando escanteada, em prol da governabilidade. Com um Congresso hostil às políticas públicas e uma parcela considerável da população simpática às teses extremistas, o governo realmente não tinha muita margem, porém, optou não deixar a discussão de lado e deixou um legado muito ruim, por enquanto.
Um destes legados é a PEC do faz-de-conta: a Proposta de Emenda à Constituição 42/2023, visa proibir militares na ativa de se candidatarem em eleições e, embora ainda não tenha sido aprovada na Câmara dos Deputados (apenas no Senado), já conta com uma série de “poréns” vindos do próprio governo para sufocar outras iniciativas mais “incisivas” de livrar o Brasil da ameaça verde-oliva que rotineiramente ameaça a República.
A nomeação do próprio José Múcio Medeiros para o Ministério da Defesa e as contenções que o governo fez na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro, além do fortalecimento dos militares no sistema de inteligência brasileiro, reforçam o pacote de ações do governo que não fortalecem em nada a democracia.
Com isso, não é muito difícil afirmar que o governo precisará, ao longo deste ano, se concentrar na sua comunicação e, mais à esquerda, fortalecer a democracia.
Não é cabível que, ainda hoje, sempre que um candidato mais à esquerda desponta nas eleições presidenciais, o fantasma do golpe e a série de ameaças anônimas de militares sejam pauta em disputas eleitorais. Queira ou não, isso prejudica também a economia, já que isso enfraquece governos progressistas e, com um Congresso hipertrofiado como o atual, acabe criando uma espécie de parlamentarismo informal.
Já do lado da comunicação, se partidos como o PL e outros do centrão lotarem as prefeituras de boa parte do país e principalmente nas capitais, isso enfraquecerá ainda mais o governo que ficará ainda mais de joelhos ao legislativo.
Se o governo não conseguir se comunicar bem, dificilmente conseguirá fortalecer os seus candidatos. Mais do que arranjar cizânias com o ministro Haddad por conta do novo regime fiscal, alguns membros do Palácio do Planalto deveriam se preocupar com o que fará para fazer as conquistas do governo chegarem do Oiapoque ao Chuí.
Isso vale, inclusive, para outro calcanhar de Aquiles do governo: a segurança pública. Até o momento não está muito tangível para a população em geral o que o governo está fazendo neste tema. Não quer dizer que não esteja fazendo.
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