Pretensão foi anunciada por Netanyahu; segundo ele, guerra ainda vai durar “muitos meses”. Um de seus ministros declarou, no dia seguinte, que saída definitiva de palestinos do enclave deveria ser “encorajada”.
DW — O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu defendeu que seu país assuma o controle da zona de fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, fechando o principal ponto de entrada humanitária no enclave e única porta de saída do território para palestinos fugindo da guerra – que, ainda segundo Netanyahu, deve durar “muitos meses”.
“O Corredor Philadelphi”, afirmou Netanyahu a jornalistas no sábado (30/12), referindo-se à estreita faixa de terra com 14 km de extensão entre Gaza e o Egito, “precisa estar em nossas mãos. Ele precisa ser fechado. Está claro que qualquer outro arranjo não asseguraria a desmilitarização que nós buscamos.”
Israel está em guerra contra o Hamas desde 7 de outubro, quando o grupo radical islâmico que controla a Faixa de Gaza cometeu um atentado terrorista, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 240 – destas, estima-se que 129 ainda estejam em cativeiro.
Em resposta, Israel lançou a maior campanha militar de sua história no enclave palestino para destruir o Hamas, desmilitarizar e desradicalizar a região, para evitar que a onda de violência daquela data volte a se repetir.
“A guerra está no auge. Estamos lutando em todos os fronts. A vitória vai precisar de tempo. Como disse o comandante [das forças israelenses], a guerra continuará por muitos meses ainda”, disse Netanyahu.
Neste domingo, o governo anunciou que vai liberar a volta para casa de alguns reservistas que foram convocados para o conflito. “Isso possibilitará um alívio significativo para a economia, e permitirá a eles que juntem forças para as atividades no ano que vem, [já que] a luta continuará e nós precisaremos deles”, afirmou um porta-voz militar.
Ministro sugere que palestinos deveriam emigrar de Gaza
Também neste domingo, o ultradireitista e ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich, defendeu a criação de assentamentos judeus em Gaza e a emigração em massa de palestinos do território.
Entre 1967 e 2005, como consequência da Guerra dos Seis Dias, Gaza esteve sob ocupação militar israelense e, naquele período, houve a criação de assentamentos judeus no território, desfeitos com o fim voluntário da ocupação.
Desde então, alegando questões de segurança, Israel manteve controle quase absoluto sobre as fronteiras de Gaza – à exceção da passagem de Rafah, que é controlada pelo Egito.
“O que precisa ser feito na Faixa de Gaza é encorajar a emigração”, afirmou Smotrich em entrevista à rádio do Exército. “Para ter segurança, precisamos controlar o território”, explicou. “Para controlar o território militarmente por um longo período, precisamos de presença civil.”
Segundo ele, o enclave palestino não pode continuar a ser um lugar onde “dois milhões alimentam o ódio e desejam destruir o Estado de Israel”. “Se em Gaza houvesse só 100 mil ou 200 mil árabes em vez de 2 milhões, toda a discussão sobre ‘o dia depois [da guerra]’ seria completamente diferente.”
Smotrich não faz parte do gabinete de guerra israelense e suas opiniões diferem da linha oficial do governo. Netanyahu já declarou que não pretende manter presença permanente na região, e sim um controle de segurança por um período indefinido; também não mencionou planos de reassentar colonos na região ou retirar os palestinos de Gaza em caráter definitivo – embora a ideia já tenha sido ventilada pela inteligência israelense no início da guerra.
Pesquisas de opinião também apontam que a ideia de recriar assentamentos na Faixa de Gaza não tem o apoio da maioria dos israelenses.
Temor de nova “Nakba”
A guerra Israel-Hamas desencadeou uma crise humanitária em Gaza. Segundo as Nações Unidas, aproximadamente 1,9 milhões tiveram que deixar suas casas para fugir do conflito, o equivalente a 85% da população que vive no território. Um em cada quatro palestinos ali passa fome, ainda de acordo com o órgão internacional. Também falta água potável, medicamentos e combustível.
Milhares estão vivendo de forma precária, em tendas improvisadas ou abrigos superlotados próximos da fronteira com o Egito, que também tem sido bombardeada ocasionalmente.
Palestinos e líderes do mundo árabe têm acusado Israel de tentar provocar uma nova “Nakba”, termo usado pelos palestinos para se referir ao êxodo de milhares de palestinos do território onde foi criado, em 1948, o Estado de Israel.
Israel diz ter invadido quartel-general do Hamas
Desde o início de dezembro, após o fim de uma trégua que resultou na libertação de dezenas de reféns, as forças israelenses passaram a centrar seus esforços de guerra na região central e sul de Gaza – esta última havia absorvido a maioria dos deslocados internos que fugiram dos bombardeios mais intensos no norte do enclave nos primeiros dois meses de conflito.
Neste final de semana, o Exército anunciou ter invadido o quartel-general do Hamas em Khan Younis, no sul. A estrutura também abrigaria a central de inteligência do grupo. As informações, contudo, não puderam ser verificadas de forma independente.
No lado palestino, o saldo de vítimas já passa de 21,8 mil. Este número, apesar de fornecido por autoridades em Gaza ligadas ao Hamas e não poder ser verificado de forma independente, é tido como plausível por órgãos como as Nações Unidas, que estimam que 70% das vítimas sejam mulheres e menores de idade.
Israel afirma ter matado mais de 8 mil terroristas em Gaza e perdido 172 soldados desde o início da invasão por terra, no final de outubro.
Israel anunciou que está disposto a deixar que navios passem a prover ajuda humanitária à Faixa de Gaza através de um corredor marítimo partindo do Chipre, uma iniciativa que se arrasta desde o início de novembro. Pelo acordo, as cargas seriam inspecionadas no porto de Larnaca antes de serem despachadas até Gaza, que até agora só recebe ajuda por via terrestre pelas fronteiras com Egito e Israel.
Tensões no Mar Vermelho com novos ataques de milícia houthi
A Marinha americana anunciou no domingo que naufragou três de quatro pequenas embarcações usadas por combatentes da milícia iemenita Houthi no ataque a um navio da Maersk que transportava carga comercial pelo Mar Vermelho.
A empresa anunciou no domingo que suspendeu operações no Mar Vermelho por 48h, mas que a tripulação da embarcação escapou ilesa do ataque.
O Mar Vermelho é ponto de entrada para navios que trafegam pelo Canal de Suez, via marítima vital para o comércio entre Ásia e Europa e por onde passam 12% do comércio internacional.
Os Estados Unidos lançaram uma operação em 19 de dezembro para manter a navegação comercial na região segura e afirma que mais de 20 países aceitaram participar dos esforços. Os ataques, porém, não cessaram inteiramente desde então.
Tanto a milícia Houthi quanto o Hamas são consideradas organizações terroristas por União Europeia, Estados Unidos e diversos outros países.
ra (Reuters, AP, AFP, ots)
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