Nova variante F-CoV-23 já matou milhares de gatos na ilha mediterrânea. Agora, temor é que o vírus se espalhe pelo mundo.
Publicado em 22/12/202322
Por Alexander Freund
DW — Desde o início do ano, milhares de gatos já morreram na ilha mediterrânea do Chipre devido a uma mutação agressiva do coronavírus animal. O Reino Unido confirmou o primeiro caso importado. A grande preocupação atual é que a nova variante do coronavírus felino possa se espalhar para os gatos de outras partes do mundo.
O Chipre é conhecido como a “ilha dos gatos”, devido ao número enorme de felinos de rua. E os gatos – semelhantes aos cães de rua do sul da Europa – são frequentemente enviados para adoção em outras partes do continente.
Mutação perigosa do coronavírus felino
O coronavírus em gatos já é conhecido há tempo. Muitos animais são portadores do chamado Coronavírus Felino (FCoV), mas a maioria deles não adoece ou apresenta apenas sintomas leves.
No entanto, quando ocorre uma mutação do vírus FCoV, ele desencadeia a peritonite infecciosa felina (PIF), que pode se transformar em uma peritonite grave. Os sintomas típicos são: vômito, diarreia, perda de peso, febre, problemas respiratórios e inflamação dos olhos. A PIF também pode causar danos graves aos nervos e, se não for tratada, torna-se fatal.
A PIF não é transmissível aos seres humanos, e também não há registro de transmissão do vírus para outros animais. Por outro lado, os gatos podem se infectar com o coronavírus humano, mas não o transmitem.
Na “ilha dos gatos” muitos animais morrem de peritonite infecciosa felina (PIF) – M. Henning/blickwinkel/picture alliance
Recombinação de coronavírus de cães e gatos
De acordo com um estudo britânico, a nova variante é muito contagiosa, espalha-se com extrema rapidez e infecta gatos de todas as idades. A transmissão provavelmente ocorre de gato para gato. Os animais, com a nova variante, têm maior probabilidade de desenvolver peritonite infecciosa felina, de acordo com estudos anteriores.
A F-CoV-23 é uma recombinação do coronavírus felino (FCov) e do coronavírus canino (CCov) e adotou a proteína spike do CCoV, que o vírus usa para entrar na célula hospedeira. Isso pode explicar o porquê do vírus se espalhar tão rapidamente entre os gatos, o que é atípico para o FCov.
Pouca atenção aos animais de estimação no contágio
Os pesquisadores criticam o fato de os animais de estimação serem ignorados em grande escala nos estudos sobre o ciclo de transmissão de doenças virais.
Ao constatar a estreita relação entre os coronavírus felino (FCoV) e canino (CCoV) e o coronavírus humano hCoV-229E5, esses possíveis ciclos de transmissão devem ser monitorados mais de perto, de acordo com a pesquisa liderada por Christine Tait-Burkard, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Embora o genoma de RNA dos coronavírus tenha taxas de mutação relativamente baixas, as recombinações gênicas são detectadas com frequência.
Medicamentos para humanos e gatos
No Chipre, o uso do medicamento antiviral contra o coronavírus humano Molnupiravir foi autorizado para o tratamento de gatos com PIF, em agosto. Em estudos, o antiviral GS-441524 também apresenta bons resultados.
Isso pode possibilitar o tratamento de gatos infectados. Mas, infelizmente, é improvável que os milhares de gatos de rua sejam medicados.
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