Já faz alguns anos que a deputada Gleisi Hoffmann (PT) trabalha para se aproximar dos militares pelo caminho contrário (e correto) ao do presidente Lula.
Se o presidente tenta se aproximar das forças armadas de cima para baixo, através do oficialato, onde os militares já passaram por anos e anos de radicalização através de suas formações, a deputada trabalha de baixo para cima com os militares graduados.
Lula tem uma visão de um desenvolvimentismo empoeirado que acredita que os militares são fundamentais para a soberania nacional, acha que bastam benesses e rios de recursos públicos para que os militares se integrem a este projeto, quase que por osmose, sem de fato integrá-los neste projeto. O resultado dessa visão míope é notável nos últimos dez anos e o seu alto custo para a democracia brasileira também.
Desde 2019, Gleisi tem constantes diálogos com militares, que começaram na reforma da previdência, quando generais foram beneficiados, enquanto aqueles que não eram oficiais foram abandonados pela Lei 1645/2019, que reestruturou a carreira militar e o Sistema de Proteção Social dos Militares das Forças Armadas e das polícias militares e corpos de bombeiros militares dos Estados.
Na ocasião, a deputada recebeu sargentos em seu gabinete para discutir o tema, mesmo com Jair Bolsonaro recém-eleito.
Atualmente, Gleisi possui uma proposta para mudar carreiras no Exército, alegando que atualmente os militares graduados (que não fazem parte do oficialato) são prejudicados, além de apontar a falta de igualdade entre as três forças, que seriam “discriminações sem amparo constitucional”.
Inclusive, o projeto que a deputada vem construindo é bem visto pelos militares graduados e visto com certo incômodo entre oficiais.
A deputada, que não tem poderes para mudar a formação dos militares das forças armadas ou até mesmo interferir nas nomeações de generais, busca um caminho de aproximação muito mais prolífico que o executivo federal, que até o momento não apresentou medidas efetivas para combater o radicalismo na caserna e tampouco para coibir a radicalização de militares através de sua formação.
A abordagem é semelhante à do também deputado Glauber Braga (PSOL), que hoje luta por corrigir as distorções do regime previdenciário militar que beneficiam oficiais em detrimento do resto da tropa.
Ainda segundo o site Sociedade Militar, a proposta da deputada que visa proporcionar aos militares do quadro especial do Exército Brasileiro na reserva a promoção até a graduação de suboficial, vem mobilizando grandes quantidades de militares graduados a participarem do debate.
Além disso, as medidas apoiadas hoje pelo Planalto (restrição para que militares da ativa concorram eleições) agradam apenas os generais, enquanto geram contrariedade no resto da caserna, já que, na visão deles, os oficiais seguirão fazendo política impunemente, podendo, inclusive, participarem de cargos no primeiro escalão do governo.
Seria Gleisi um bom nome para substituir Múcio (atual ministro da defesa) que irá deixar o cargo no início do próximo ano?