Saúde e riqueza: Onde na Europa as contas médicas provocam a pobreza?

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Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que milhões de pessoas na Europa estão lutando para pagar as suas contas médicas.

Publicado em 13/12/2023 – 15h08 | Atualizado em 14/12/2023 – 11h04

Por Eleanor Butler

EuroNews — Esta semana, os líderes da saúde da OMS reúnem-se na Estônia para comemorar o 15º aniversário da Carta de Tallinn, um quadro que estuda a ligação entre riqueza e saúde.

Para marcar a ocasião, a OMS lançou um novo estudo que analisa os sistemas de saúde em 40 países europeus, com foco em seus pré-estado de pandemia.

As conclusões globais são particularmente pessimistas, mostrando que milhões de europeus enfrentam dificuldades financeiras relacionadas com os cuidados de saúde.

O fenômeno é impulsionado nomeadamente pela expectativa de que os pacientes devem fazer pagamentos adiantados, do próprio bolso, mesmo que essas taxas sejam reembolsadas numa fase posterior.

Muitos pacientes renunciarão, portanto, ao tratamento sempre que possível, o que significa que a Europa está assistindo a um elevado volume de necessidades médicas não satisfeitas.

Contas médicas catastróficas

A OMS classifica os gastos como “catastróficos” quando o valor do próprio bolso que uma família paga pelos cuidados de saúde excede 40% da sua capacidade de pagar as contas médicas.

A taxa de despesas catastróficas com a saúde varia em todo o continente, mas a situação é mais crítica na Armênia, Bulgária, Geórgia, Letônia, Lituânia e Ucrânia, onde mais de 14% dos agregados familiares são afetados por esta questão.

Os países que registam a menor incidência de despesas catastróficas com a saúde, registadas em menos de 2%, são a Irlanda, a Eslovênia, a Espanha, a Suécia e o Reino Unido.

A OMS também mostra que, nos 40 países estudados, aqueles que vivem nos agregados familiares mais desfavorecidos são mais propensos a efetuar pagamentos médicos que prejudicam os seus orçamentos de despesas.

Em todos os países estudados, os 20% dos agregados familiares mais pobres representam pelo menos 40% daqueles com despesas de saúde catastróficas, e este número sobe para mais de 70% na Croácia, República Tcheca, França, Hungria, Irlanda, Luxemburgo, Montenegro, Sérvia, Eslováquia, Suécia, Suíça, Turquia e Ucrânia.

Embora os números possam ser parcialmente explicados tendo em conta o rendimento mais baixo das famílias mais pobres, há uma razão adicional pela qual as despesas catastróficas são mais prevalentes entre este grupo, de acordo com a OMS.

Devido ao preço inacessível dos tratamentos, as famílias desfavorecidas têm maior probabilidade de adiar a procura de cuidados médicos profissionais, o que significa que podem ter de recorrer a serviços de emergência dispendiosos e com utilização intensiva de recursos para lidar com condições agravadas.

Porcentagem de famílias com despesas catastróficas, em média

Empobrecendo os gastos com saúde

Além de medir as despesas catastróficas, a OMS analisou a proporção de famílias “empobrecidas” ou “ainda mais empobrecidas” pelas contas médicas.

“Empobrecido” significa que o orçamento de um agregado familiar já não se estende para satisfazer necessidades básicas, como alimentação ou aquecimento, depois de pagar o tratamento médico.

Por outro lado, “ainda mais empobrecidos” é um rótulo utilizado para descrever famílias que já estão abaixo do limiar das necessidades básicas e incorrem num pagamento de cuidados de saúde do próprio bolso, o que as empurra ainda mais para a pobreza.

Na Bélgica, na Irlanda, na Espanha, na Eslovênia e no Reino Unido, o número de agregados familiares empobrecidos ou ainda mais empobrecidos após despesas médicas antecipadas é inferior a 1%.

No outro extremo do espectro, este número sobe para mais de 7% na Albânia, Armênia, Bulgária, Sérvia e Ucrânia.

Quais procedimentos médicos estão gerando gastos catastróficos?

Nos 40 países estudados, as dificuldades financeiras são predominantemente causadas por taxas relacionadas com medicamentos ambulatoriais, que representam, em média, 38% dos pagamentos diretos nas famílias com despesas de saúde catastróficas.

Outros fatores importantes de dificuldades financeiras incluem atendimento odontológico ambulatorial, produtos médicos ambulatoriais e atendimento hospitalar.

Dito isto, o quadro varia quando olhamos para as despesas médicas que prejudicam os orçamentos familiares a nível nacional.

Em países com um menor montante de despesas catastróficas com saúde, os principais impulsionadores são os cuidados dentários (26%), seguidos de produtos médicos (22%) e medicamentos ambulatoriais (19%).

Por outro lado, nos países onde existe uma maior ligação entre a instabilidade financeira e os cuidados de saúde, as principais causas de despesas catastróficas são os medicamentos ambulatoriais (55%), seguidos dos cuidados hospitalares (13%), cuidados dentários (10%), cuidados ambulatoriais (9%) e produtos médicos (8%).

Motivadores de gastos catastróficos do próprio bolso, médias entre países

À luz do relatório, o Dr. Hans Henri P Kluge, diretor regional da OMS para a Europa, comentou: “Para milhões de pessoas na Região Europeia, cuidados de saúde gratuitos ou acessíveis são simplesmente um sonho”.

Ele continuou: “Muitos enfrentam escolhas dolorosas, como pagar por medicamentos ou tratamentos em detrimento do pagamento de alimentos ou eletricidade”.

A fim de evitar que as necessidades médicas empurrem as pessoas para a pobreza, a OMS declarou que a cobertura universal de saúde deveria ser adequadamente financiada pelos gastos públicos.

Atualmente, apenas 23 dos 40 países estudados pela OMS afirmam cobrir mais de 99% da população.

Entre outras medidas, o grupo também sugeriu que o acesso a cuidados de saúde financiados publicamente não deveria depender de contribuições para o seguro social de saúde, pois isso muitas vezes deixa os pobres desprotegidos.

Cláudia Beatriz:
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