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Posse de Milei: movimentos sociais argentinos em alerta

Milhares de pessoas se reuniram na última Marcha das Madres de la Plaza de Mayo antes da posse de Javier Milei no domingo (10/12). Sindicatos e movimentos sociais estiveram presentes e declararam que irão resistir contra a motosserra do governo de extrema-direita. Um problema fundamental a resolver será a governabilidade. A Argentina abre a porta […]

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Manifestantes se reúne na ultima Marcha das Madres de la Plaza de Mayo, antes do governo de Milei e Declaram estar em estado de Alerta. Foto: Bruno Falci / Buenos Aires

Milhares de pessoas se reuniram na última Marcha das Madres de la Plaza de Mayo antes da posse de Javier Milei no domingo (10/12). Sindicatos e movimentos sociais estiveram presentes e declararam que irão resistir contra a motosserra do governo de extrema-direita. Um problema fundamental a resolver será a governabilidade.

A Argentina abre a porta a um futuro incerto. A falta de experiência política de Milei representa um salto no vazio. Ele vai presidir com apoio da velha “casta” política demonizada em sua campanha eleitoral, tendo à frente o ex-presidente Mauricio Macri, que governou de 2015 a 2019 e conduziu o país a crise econômica, com o gigantesco empréstimo junto ao FMI – Fundo Monetário Internacional.

Bruno Falci, de Buenos Aires, para O Cafezinho

Finalmente, após um ano eleitoral de alta tensão, a Argentina decidiu. Tornou-se presidente aquele que promete uma ruptura com o sistema político estabelecido, “a casta política”, como ele a chama, da qual ele próprio agora se torna parte. Embora o apoio de Macri tenha sido decisivo para a vitória de Milei, ele não é suficiente para garantir a aprovação dos projetos legislativos. Ele está em minoria nas duas câmaras parlamentares e não tem poder territorial: nenhuma das 24 províncias da Argentina é governada por La Libertad Avanza (LLA), seu partido, fundado em 2021. É iminente um período de instabilidade.

O triunfo de Milei deve ser entendido como uma ameaça à democracia argentina. Há um programa máximo que implica demolir, serrar, vender ou jogar fora pedaços do Estado nacional. Ele assumirá a presidência com base nas mentiras que espalhou na campanha eleitoral e nas reformas predatórias que prometeu. O presidente eleito antecipou um forte ajuste fiscal, a demissão de funcionários públicos e a privatização dos meios de comunicação estatais. Há mais incerteza do que certeza sobre como o fará.

Guerra econômica e resistência

Autoridades ligadas a Macri voltam ao poder. A realidade é que, no dia 10 de dezembro, terá início um plano de guerra contra a classe trabalhadora. Milei procurará empobrecê-la ainda mais, com o aniquilamento dos subsídios governamentais, enquanto continuarão a ser beneficiados os poderosos de sempre: o FMI, os bancos e os grandes empresários, que possuem todos os recursos estratégicos do país.

Nesse cenário sombrio, o governo avançará com uma desvalorização brutal, taxas elevadas para os serviços públicos, um duro ajuste fiscal e liberalização de preços. Milei já anunciou diversas privatizações (da petrolífera estatal YPF, da Rádio Nacional, da televisão pública e da agência de notícias Télam), mas ele não tem um projeto econômico completo e propaga soluções simplistas.

O secretário de Direitos Humanos do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), Ángel Borello, alertou que “o modelo que Milei anuncia vai gerar desemprego, violência e morte” e afirmou que “urgentemente” os dirigentes dos diferentes setores dos movimentos sociais “devem se reunir para estabelecer um plano de resistência e luta”. O dirigente considerou que “o projeto de país que Milei e o seu sócio Mauricio Macri irão implementar não é nada mais nada menos que um novo modelo de dominação que gera fome, miséria, guerra e mortes a nível global”.

A primeira missão de Milei será garantir a governabilidade, com uma frágil estrutura política, e, depois, ter a estabilidade emocional para liderar um país inteiro, algo que nunca esteve nos seus planos, pois sempre optou pela discórdia e truculência. Sem maioria em nenhuma das câmaras e com suas propostas recessivas, que aprofundarão a crise econômica, Milei, terá dificuldade em apelar ao diálogo com outros espaços políticos para evitar o bloqueio na Câmara dos Deputados e no Senado. Esses espaços não incluem apenas a poderosa oposição peronista, mas todo o consenso democrático. O plano de Milei tem diversas contradições e fraquezas, como não ter governadores ou prefeitos próprios, nem maiorias próprias no Congresso e ter quase metade do país que votou contra.

Marcha das Madres de la Plaza de Mayo que buscam seus filhos desparecidos e netos sequestrados durante a ultima ditadura militar na Argentina. Foto: Bruno Falci / Buenos Aires

A ameaçadora estagflação

Na semana passada, recém-chegado dos Estados Unidos, Milei confirmou, mais uma vez, que seu governo será de ajuste contra o povo trabalhador. Ele se referiu a dois tópicos. Por um lado, declarou que Luís Caputo, será o seu ministro da Economia. Por outro lado, falou que a Argentina vai passar por um período de estagflação. O que é esse fenômeno econômico? É a combinação entre inflação persistente e crescente e estagnação, ou seja, queda da atividade econômica. 

Em contraste com a situação anterior, onde a inflação e a atividade econômica têm coexistido, a estagflação representa um país com mais excluídos. Este é um cenário devastador, com queda dos salários reais, maior desemprego e menor produção nas empresas devido à inflação e à estagnação econômica.

Um plano de guerra está sendo preparado contra a classe trabalhadora que deve se organizar para enfrentá-lo. Para cuidar desse assunto, Milei conta com a presença de Patricia Bullrich, outra expoente da tão criticada “casta” que ele reabilitou e que foi a candidata da direita tradicional, apoiada por Macri, derrotada no primeiro turno das eleições presidenciais. Ela, que foi ministra da Segurança no governo de Macri (2015-2019), está de volta, no mesmo cargo, com as suas políticas duras contra os pobres e a sua proposta de “solução” para os conflitos sociais com cacetetes, bombas e tiros.

Após a aliança com Macri, o projeto de dolarização de Milei saiu da pauta, mas jamais abriu mão do forte discurso contra as medidas de cunho social. prometeu, durante a campanha, “destruir a inflação”, que passa de 140% ao ano, uma das mais altas do mundo. No entanto, já eleito, esclareceu que este objetivo, prometido em comícios empunhando uma motosserra, não será alcançado com muita rapidez. “Baixar a inflação vai levar entre 18 e 24 meses”, estimou, anunciando o calote eleitoral. Ou seja, trata-se de um cenário de recessão, onde o aumento dos preços continuará atingindo ainda mais duramente as condições de vida das maiorias populares e o seu poder de compra. Essa tarefa não será difícil para Caputo, que foi ministro da Economia no governo de Macri.

Protesto contra o governo de Milei, diante da sede do governo, poucos dias antes de sua posse. Foto: Bruno Falci/ Buenos Aires

A sombra da ditadura militar

Um dos pilares mais discutidos ao longo da campanha foi o consenso social contra a ditadura militar e suas consequências. Com a vitória de Milei e, sobretudo, de sua vice-presidente Victoria Villarruel, a discussão sobre a legitimação dos atos perpetrados pelos repressores entre 1976 e 1983 estará mais uma vez em cima da mesa.  O repúdio à ditadura militar foi um dos poucos consensos sociais alcançados e que não foi discutido por nenhum político, independentemente das cores partidárias.   

As preocupações civis foram aprofundadas pelos constantes comentários benevolentes de Villarruel sobre os militares que tomaram o poder na década de setenta e geraram o período mais tenebroso do país sul-americano, com desaparecimentos de 30 mil pessoas, roubo de bebês, tortura e estupro, que ocorreram em campos de extermínio, como a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), que, na condição de museu da memória, foi reconhecida recentemente como Patrimônio Mundial da UNESCO.

 Ela é filha e sobrinha de oficiais do Exército e neta de um contra-almirante da Marinha e passou mais de metade da sua vida ativa em organizações pró-militares. Iniciou sua trajetória na Associação da Unidade Argentina (Aunar), criada em 1993 por Fernando Exequiel Verplaetsen – ex-chefe de inteligência do Comando dos Institutos Militares e último chefe da Polícia de Buenos Aires durante a ditadura.

Falas e Musicas de resistência. Foto: Bruno Falci / Plaza de Mayo CABA

Estado de alerta

Antes de o novo governo de extrema direita tomar posse, já havia um estado de alerta e deliberação em muitos lugares. A resistência começa com a mais ampla solidariedade com cada um dos setores que estão ameaçados e preparados para resistir como o Telam, a TV Pública, a Rádio Nacional, muitos órgãos estatais e organizações sociais.

São duas iniciativas. A primeira visa preparar reuniões de ativistas para exigir e promover assembleias em todos os locais de trabalho e sindicatos, a nível local e nacional. A segunda objetiva construir um grande plenário nacional de trabalhadores empregados e desempregados e de todos os setores, para propor um plano de luta aos dirigentes sindicais.

No ato de quinta feira, 07/12, na qual também participaram milhares de manifestantes, sindicalistas e organizações sociais, as Madres de la Plaza de Mayo apelaram à resistência e ao combate às políticas de ajustamento propostas por Milei. Esse ativismo histórico, que surgiu há 47 anos e é caracterizado por forte simbolismo no âmbito dos Direitos Humanos e da justiça social, continuará a permanecer como outro campo de resistência aos desvios negacionistas e antidemocráticos.

Abaixo vídeos da última Marcha das Madres de la Plaza de Mayo feitos pelo correspondente Bruno Falci

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Comentários

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carlos

11/12/2023 - 10h09

Qualquer coisa parecida de javier milei com o saudoso jorge rafael vidella na argentina ou seja andou para trás que nem caranguejo.


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