Fabrício Queiroz, anteriormente considerado o braço direito da família Bolsonaro e apontado como responsável pelo esquema da Rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, está novamente em destaque na mídia. Isso ocorreu após uma reportagem do Metrópoles ter obtido acesso a áudios do antigo homem de confiança da família.
A coluna teve acesso a uma série de áudios que expõem de forma minuciosa a pressão exercida por Queiroz e a maneira como ele continua a colocar os Bolsonaro contra a parede, ameaçando revelar detalhes dos bastidores de sua participação em transações ilegais em benefício do clã.
As mensagens foram encaminhadas via WhatsApp para Santini, período durante o qual Queiroz e os Bolsonaro, em virtude das investigações sobre as rachadinhas, estavam evitando o contato direto.
Além de solicitar recursos na forma de “empréstimos” destinados a serem saldados posteriormente não por ele mesmo, mas por Flávio Bolsonaro, Queiroz reconhece ter recebido suporte financeiro. Ele expressa insatisfação por perceber que não estava recebendo tratamento igual ao de outros apoiadores dos Bolsonaro e, sem hesitação, declara ter conhecimento de diversas situações relacionadas à família.
“Não adianta dar dinheiro”
No final de 2022, Fabrício Queiroz procurou Alexandre Santini em busca de auxílio financeiro, sem saber que Santini havia rompido relações com Flávio Bolsonaro. A amizade entre Queiroz e Santini se desenvolveu quando Flávio ainda ocupava o cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro. Durante o auge do caso das rachadinhas, no qual ambos estavam sob investigação do Ministério Público – Queiroz como operador do esquema e Santini como sócio da loja da Kopenhagen -, era por meio dessa conexão que o ex-assessor de Flávio mantinha contato com a então família presidencial, buscando proteção e assistência financeira.
Queiroz menciona enfrentar dificuldades, expressando: “Você não tem noção da fogueira que eu tô pulando”. Ele reclama de não ter recebido apoio adequado e se orgulha de sua lealdade ao clã. Ao dirigir-se a Santini, ele declara: “Se acontecesse com você o que aconteceu comigo, você bancava até o final também, tu é homem”.
Migalhas não resolvem
Fabrício Queiroz e Alexandre Santini recentemente retomaram o contato, após um período de silêncio entre eles. Durante as investigações sobre as rachadinhas, Santini estava muito próximo de Flávio Bolsonaro, e a orientação para aqueles próximos ao senador era evitar conversas telefônicas com Queiroz.
“Não sei nem se eu posso te chamar de meu amigo, porque uma vez que eu liguei pra você, e você disse que não podia mais falar comigo e desligou o telefone na minha cara”, queixa-se o ex-assessor, para em seguida dizer, sem meias palavras, o que queria: “Tô passando uma dificuldade muito grande, e eu tô precisando de um dinheiro, tá? Natal chegando aqui… Tô com problema financeiro mesmo, irmão”. É neste momento que Queiroz admite que costumava receber ajuda. “Não é com migalhas que me dão aí de vez em quando que resolve a minha vida, não, cara”, afirma, em tom queixoso, por considerar que a ajuda que recebia era insuficiente.
“Sei das Tretas. Informação é o que eu tenho“
Em outro áudio, Queiroz relata que seus filhos estão enfrentando dificuldades financeiras. Ele menciona que dois deles, Felipe e Nathália, haviam conseguido alguma renda com o auxílio de um aliado de Flávio Bolsonaro. No entanto, devido à divulgação das contratações secretas realizadas por meio do Ceperj, uma fundação vinculada ao governo do Rio, perderam essa fonte de recursos. Ao abordar o assunto, Queiroz menciona o nome do ex-árbitro de futebol Gutemberg Fonseca, que foi nomeado secretário de Esportes do governo de Cláudio Castro, no Rio de Janeiro, por indicação de Flávio Bolsonaro.
Sendo muito próximo do senador, o secretário teria, de acordo com Queiroz, garantido as oportunidades para seus dois filhos. Entretanto, como os contratos não perduraram por muito tempo, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro sentiu-se enganado. Na conversa, Queiroz também menciona outro homem de confiança de Flávio, o advogado João Pedro do Nascimento, que, durante o governo Bolsonaro, assumiu a presidência da influente CVM, a Comissão de Valores Mobiliários.
Nascimento alcançou a posição – onde permanece até hoje – por recomendação do filho mais velho do então presidente da República, com quem tem uma amizade pessoal. “Esse filho da p. desse Gutemberg Fonseca, isso é um vagabundo esse Gutemberg Fonseca. Eu sei das tretas dele todas, cara. Sei que… Sei das tretas dele todas junto com o João Pedro… Eu não sou de bobeira, entendeu? Você sabe que informação é o que eu mais tenho”, afirma.
Empréstimo para o 01 pagar
Queiroz menciona que evita enviar mensagens diretamente para Flávio Bolsonaro para não colocá-lo em apuros, especialmente porque, segundo ele, o país estava passando por uma situação complicada após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. Ele aproveita a oportunidade para expressar novamente sua insatisfação com o tratamento que vinha recebendo da família Bolsonaro. Queiroz ressalta que outras pessoas de confiança do clã estavam “bem” e vivendo com dignidade, enquanto ele mesmo enfrentava dificuldades.
Ao solicitar dinheiro a Alexandre Santini, Queiroz menciona a possibilidade de um empréstimo. No entanto, de maneira intrigante, ele sugere que quem efetivamente faria o pagamento seria “o amigo” – uma alusão a Flávio Bolsonaro. “Eu tô precisando de uma grana emprestada aí e depois eu vejo com o amigo lá pra te pagar aí, cara”, pede. “Eu sei que eles (os Bolsonaro) estão numa sinuca de bico do c. Acho que eles queriam tudo na vida, menos esses problemas que estão enfrentando com esse bandido aí voltando ao poder”, segue, referindo-se à derrota de Bolsonaro para seu arquirrival, o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Ameaça
Os áudios revelam que a família de Fabrício Queiroz tinha o costume de solicitar diversos tipos de ajuda a pessoas de extrema confiança do clã Bolsonaro. Até mesmo para quitar mensalidades da faculdade de seus filhos, o ex-assessor esperava contar com a assistência do grupo. Neste áudio, Queiroz relata que sua esposa havia procurado Victor Granado, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, solicitando recursos para regularizar os boletos do curso de uma de suas filhas, Evelyn Mayara. “Acumula, fica seis meses, ela liga, se não (pagar) ela não pode renovar a matrícula. Eles (referindo-se aos filhos de Jair Bolsonaro) fizeram faculdade, eles são tudo (formados em) faculdade particular, eles sabem como é que funciona isso”, queixa-se.
Ao mencionar novamente outros aliados da família que, segundo Queiroz, têm a vida resolvida, ele destaca a nomeação da esposa de Victor Granado no gabinete de Flávio no Senado. Mariana Frassetto Granado ocupa um cargo comissionado desde 2019, com salário um pouco acima de R$ 20 mil. Queiroz alega ainda que o próprio Granado teria uma parceria financeira significativa com uma das advogadas de confiança do senador.
“A mulher do Victor tá lá pendurada no gabinete ganhando 20 mil, o Victor tá com um contrato milionário com a Luciana… Eu não sou otário, pô, eu sei de tudo, entendeu?”, diz. Ele afirma ainda ter informações de que vinha sendo criticado pelos filhos de Jair Bolsonaro e ameaça: “Eu quero falar isso com o amigo (Flávio), frente a frente. Porque, se for verdade, eu vou pro pau mesmo. Foda-se, eu sou homem pra c.”.
Com informações do Metrópoles.