O grupo alemão proprietário da Monsanto perde mais um processo nos EUA relacionado ao agrotóxico Roundup, à base de glifosato. Os autores da ação alegaram que o câncer se desenvolveu por causa do produto.
Publicado em 20/11/2023
DW — A gigante química e farmacêutica alemã Bayer perdeu mais um processo relacionado às acusações de efeitos cancerígenos do Roundup, um herbicida à base de glifosato.
Um tribunal no estado americano de Missouri condenou o grupo na última sexta-feira (17/11) a pagar um total de US$ 1,56 bilhão a quatro pessoas, que alegam ter contraído câncer através do uso do herbicida, vendido pela multinacional Monsanto, pertencente à Bayer.
A Bayer anunciou que vai recorrer da sentença.
“Diferentemente dos processos anteriores, os tribunais têm, nos casos recentes, permitido indevidamente que os demandantes apresentem de forma deturpada os fatos regulamentares e científicos”, alegou a empresa.
Valorie Gunther de Nova York, Jimmy Draeger do Missouri e Daniel Anderson, da Califórnia, receberam juntos US$ 61,1 milhões em indenizações compensatórias e US$ 500 milhões, cada um, em “indenizações punitivas”. Eles foram divulgados com linfoma não Hodgkin, que eles alegam ter sido causado pelo uso do Roundup na propriedade de suas famílias. A esposa de Draeger, Brenda, recebeu US$ 100 mil por danos que ela sofreu devido à doença de seu marido.
Derrotas consecutivas
Em outubro passado, a Bayer sofreu três derrotas consecutivas nos tribunais, após ter ganho nove processos.
A Bayer sempre rejeitou as acusações contra o glifosato. A empresa disse alemã que décadas de estudos demonstraram que o Roundup e seu ingrediente ativo, o glifosato, são seguros para uso humano.
Amplamente aplicado na União Europeia e em países do mundo, o glifosato tem estado no centro de um debate científico acalorado sobre seus efeitos na saúde e no meio ambiente.
Em julho, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) declarou que não encontrou “áreas de preocupação crítica” que justificassem uma exclusão do produto, embora tenha salientado que possuía poucos dados para avaliação.
A EFSA informou que entre os aspectos que não poderiam ser esclarecidos de maneira conclusiva estão os riscos nutricionais para os consumidores e avaliações de risco para plantas aquáticas. O material disponível também não permitiu conclusões sobre riscos potenciais à proteção de espécies. O caráter inconclusivo do relatório foi amplamente criticado por especialistas independentes.
Entretanto, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliou em 2015 a substância como “provavelmente cancerígena”.
A licença será prorrogada na UE
Na quinta-feira passada, a Comissão Europeia anunciou que prorrogaria por mais dez anos a licença para o uso do glifosato na União Europeia (UE). A decisão foi tomada devido à falta de um consenso entre os 27 países do bloco sobre a extensão da licença ou a proibição do agrotóxico mais utilizado no mundo e cuja aplicação é alvo de debates controversos e intensos entre especialistas e ambientalistas.
Segundo fontes diplomáticas, sete países, incluindo França, Alemanha e Itália, abstiveram-se na votação. Na última quinta-feira, uma nova votação também foi inconclusiva. A licença do glifosato expiraria em meados de dezembro. Devido ao impasse, a Comissão Europeia decidiu endossar a própria proposta e prorrogar por dez anos a autorização para o uso do produto.
Cerca de 165 mil reclamações foram feitas por danos pessoais causados pelo Roundup, marca adquirida pela Bayer em 2018, quando uma alemã comprou um produtora de glifosato Monsanto, por US$ 63 bilhões.
Em 2020, a Bayer anunciou que direcionou mais de US$ 10 bilhões de dólares para encerrar aproximadamente cerca de 95 mil processos nos EUA relacionados ao herbicida Roundup. Cerca de 50 mil processos continuam em aberto.
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