Embora Javier Milei adote uma postura pública agressiva em relação ao presidente Lula e faça a promessa de retirar a Argentina do Mercosul, caso seja eleito, nos bastidores, seus representantes têm comunicado aos diplomatas brasileiros, que essa atitude faz parte de uma estratégia de campanha e que, na prática, o rompimento com o bloco não está previsto para ocorrer. Com informações do O GLOBO.
Conforme um documento interno em circulação no Itamaraty, a candidata a vice de Milei, Victoria Villarruel, e a economista Diana Mondino, deputada nacional eleita e possível futura chanceler, estabeleceram contatos confidenciais com a embaixada do Brasil em Buenos Aires para reiterar
Conforme um documento interno em circulação na alta hierarquia do Itamaraty, a candidata a vice de Milei, Victoria Villarruel, e a economista Diana Mondino, deputada nacional eleita e possível futura chanceler, estabeleceram contatos confidenciais com a embaixada do Brasil em Buenos Aires para reiterar “a central importância das relações com o Brasil”.
“A propósito do Mercosul, indicaram a intenção de atualizá-lo e de modernizá-lo, e não necessariamente de denunciá-lo ou de retirar a Argentina do grupamento”, diz o documento intitulado “Perspectivas de eventual governo de Javier Milei para as relações bilaterais”.
O Brasil mantém uma relação comercial significativa com a Argentina, sendo esta última o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Por sua vez, o Brasil representa o principal destino das exportações argentinas, gerando um superávit comercial de US$ 2,2 bilhões em 2022 e de US$ 4,5 bilhões neste ano.
Segundo a análise elaborada pelos diplomatas para fornecer subsídios ao chanceler Mauro Vieira e ao próprio presidente Lula, “mesmo na hipótese de que Milei busque levar adiante a ameaça de retirar a Argentina do Mercosul (que embora improvável não pode ser totalmente descartada, dada a personalidade do candidato), haveria requisitos parlamentares difíceis de serem cumpridos em um quadro parlamentar dominado pela oposição”.
Durante grande parte da campanha, Milei enfatizou sua intenção de retirar a Argentina do Mercosul, caso seja vitorioso nas eleições. “É uma união aduaneira que favorece os empresários que não querem competir. Quero estar alinhado com o Ocidente, meus sócios serão os Estados Unidos e Israel”, O político de orientação ultradireitista também costuma declarar que o bloco está estagnado e não está avançando em nenhuma direção.
No último debate televisionado no domingo (12), quando questionado por Sergio Massa sobre sua intenção de retirar a Argentina do Mercosul, Milei adotou uma postura diferente, declarando: “É uma questão do mercado privado e o Estado não tem por que se meter, porque cada vez que se mete gera corrupção”, afirmou. Essa resposta representa uma mudança em relação à sua posição anterior, embora o ultradireitista tenha continuado a caracterizar o Mercosul como um “estorvo”.
O ajuste de posicionamento de Milei também é notável em razão do perfil das representantes que ele designou para dialogar com o governo brasileiro.
Villarruel, a candidata a vice, possui antecedentes familiares ligados às Forças Armadas, sendo filha e neta de militares. Seu pai, o tenente-coronel Eduardo Marcelo Villaruel, foi acusado de participar de uma operação destinada a combater um foco guerrilheiro durante o governo de Isabel Perón em 1975, antes do período da junta militar.
Na coletiva de imprensa desta quinta-feira, ela afirmou que apenas uma “tirania” seria capaz de resolver a crise na Argentina.
Mondino, economista e professora de finanças da Universidade Cema (Ucema), é mencionada como uma possível escolha para o cargo de ministra de Relações Exteriores no governo de Milei.
Na última segunda-feira, o jornal Valor publicou uma entrevista com Mondino na qual ela declara que as relações entre Brasil e Argentina “serão, no mínimo, iguais ou possivelmente melhores” em caso de vitória de seu candidato.
No entanto, no relatório do Itamaraty, os diplomatas reconhecem que a postura do político ultradireitista pode, de fato, resultar na diminuição das agendas bilaterais entre Brasil e Argentina e na diminuição da cooperação no âmbito do Mercosul.
Para atenuar o impacto negativo, a recomendação do Itamaraty ao governo é “evitar polêmicas desnecessárias, sobretudo pela imprensa e redes sociais, preservar a agenda bilateral e manter permanentemente abertos canais de diálogo.”
Helena
20/11/2023 - 14h24
Vai ter que pedir desculpas públicas ao Lula. Sem esse pedido de desculpas, nada feito!