O general Hamilton Mourão é reincidente na prática do crime de racismo e na aporofobia – que significa nojo de pobres; fator que condiciona a sociedade e o sistema de justiça a “naturalmente” atacar, segregar e penalizar os pobres pelo fato de serem pobres.
Em 2018, já indicado vice de Bolsonaro na chapa fascista-militar, o general Mourão associou o subdesenvolvimento e o atraso do Brasil à “indolência” dos indígenas e à “malandragem” dos negros.
Para minimizar o escândalo causado pela declaração racista, Mourão simulou um pedido de desculpas invocando cinicamente ancestralidade indígena e afro. Disse que seu pai era amazonense e sua avó “cabocla”.
Entretanto, na véspera da eleição presidencial de 2018 [6/10], o general traiu a desculpa de ocasião e elogiou a “beleza do neto” como consequência do “branqueamento da raça”.
No dia 20 de novembro de 2020, exatamente na data que se celebra a Consciência Negra, o então vice-presidente Mourão fez uma declaração racista ao repercutir o assassinato bárbaro do negro Beto Almeida por seguranças do grupo Carrefour em Porto Alegre: “no Brasil não existe racismo”, afirmou.
É uma afirmação racista, porque legitimadora e justificadora de todo tipo de violência, opressão, exclusão e segregação historicamente sofrida pelo povo negro.
A negação do racismo, a despeito do racismo cruel que vitimiza cotidianamente o negro, é um princípio de regimes racistas de Apartheid como o sionista de Israel e o sul-africano, que desumanizam o negro [ou o palestino] para banalizar as práticas desumanas, mortíferas, assassinas e cruéis contra negros [e palestinos] como normais e aceitáveis.
Em entrevista à Folha [11/11], além de defender impunidade para golpistas e os interesses castrenses mais obscenos, Mourão também acusou negros e pobres pelo roubo de 21 fuzis e metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, estado de São Paulo.
O general fez uma dedução simplista, a partir de uma lógica racista elementar, e criminalizou genericamente –e sem nenhuma prova– os negros e pobres pelo roubo das armas.
“Os soldados que nós temos”, disse Mourão, “é a garotada que vem da periferia. Quem serve ao Exército é a turma preta, pobre, analfabeta. Essa é a turma que serve ao Exército, na sua grande maioria”.
E Mourão então deduziu, com sua lente racista e seu asco aos pobres, que este perfil de soldado deixa as unidades militares “sujeitas a essa ação do crime organizado”.
A criminalização de negros e pobres por desvios, malfeitos, e ilegalidades no Exército contrasta com as provas reveladas em inúmeras investigações criminais em curso.
Oficiais de alta patente das Forças Armadas praticamente passaram o Código Penal em revista com a profusão de crimes e esquemas ilegais em que se envolveram antes e durante o governo militar com Bolsonaro.
O menu é diversificado: vai de tráfico internacional de cocaína via FAB a desvios orçamentários, propina em ouro, corrupção desenfreada, contrabando de jóias pertencentes à União etc. Sem esquecer, claro, dos atentados golpistas à democracia.
Tratam-se de generais, coronéis, tenentes-coronéis etc – e não “os soldados que nós temos”. Nenhum deles da favela, pobre ou negro; porque são todos homens brancos, abastados e privilegiados com salários nababescos como o próprio Mourão.
Para o general Mourão, no entanto, que diz não existir racismo no Brasil, os negros e pobres –pelo fato de serem negros e pobres– são, a priori, e em qualquer situação, criminosos. Sempre.
A prática de “racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”, diz o inciso XLII do artigo 5º da Constituição brasileira.
Caso o Senado da República decida proteger o senador Mourão para impedir que este general racista seja processado, condenado e preso, estará sendo cúmplice abjeto do racismo.