Organizadores de manifestações pró-palestinas estão incomodados com as provocações de um determinado partido. Entenda. Com informações da Carta Capital.
Grupos que encabeçam manifestações em apoio à Palestina em São Paulo emitiram uma declaração expressando descontentamento em relação ao Partido da Causa Operária, o PCO. Eles alegam que o partido adotou uma atitude considerada desrespeitosa durante os eventos.
O mencionado texto surge após membros da mencionada legenda levarem para as ruas bandeiras e camisetas em apoio ao Hamas, grupo responsável pelos ataques terroristas em Israel iniciados em 7 de outubro, que deram origem ao conflito.
Os líderes afirmam ter buscado os representantes do PCO em várias ocasiões para comunicar as reivindicações reais dos protestos, mas não obtiveram êxito. Desde o dia 7 de outubro, foram realizadas cinco manifestações.
“Gostaríamos de ressaltar a insatisfação da comunidade árabe e palestina e dos movimentos que estão incansavelmente organizando as manifestações de apoio ao povo palestino com as atitudes do PCO – Partido da Causa Operária –, partido que não faz parte da organização dos atos, não representa seus interesses, mas adota uma postura desrespeitosa, de impor ao movimento pautas e bandeiras que não são suas”, diz o texto.
Os organizadores das manifestações afirmam não se responsabilizar pelas pessoas que participam dos protestos e pelas “bandeiras” que são levantadas. Além disso, reclamam que, devido à postura do PCO, suas manifestações têm sido alvo de criminalização ou desvio de objetivos, muitas vezes devido à desinformação disseminada por meios de comunicação e por entidades e grupos específicos.
Em entrevista à reportagem, Rawa Alsagheer, coordenadora do movimento Samidoun e uma das líderes do protesto, declarou que a defesa ao Hamas não está incluída entre os princípios que unem os diversos movimentos em direção aos protestos.
A ativista argumentou que há receio por parte dessas organizações de simplificar a questão da Palestina como uma guerra iniciada em 7 de outubro “entre Israel e o Hamas”, pois o conflito possui raízes históricas. Ela também mencionou preocupações com a segurança dos manifestantes.
“Eu não condeno a resistência palestina. Eu condeno, nesse momento tão sensível, colocar essa narrativa de uma guerra entre Israel e Hamas e não pensar na segurança da comunidade árabe e palestina e dos movimentos, num momento em que o mundo inteiro está acusando o Hamas de terrorismo”, disse.
Quando questionada pela reportagem se as organizações que lideram o ato consideram o Hamas uma organização terrorista, Alsagheer afirmou que a questão não está pacificada e que só pode falar pelo seu movimento.
“O povo da Palestina tem direito à resistência. Não posso responder por toda a organização. No Samidoun, especificamente, a gente não considera o Hamas terrorista”, diz. O Samidoun se intitula uma “Rede de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos” e, segundo Alsagheer, está presente em 35 países.
Em resposta à CartaCapital, o partido afirmou por meio de nota que os atos não pertencem exclusivamente às organizações que assinam o manifesto. A nota também menciona que o ataque direcionado ao setor mais ativo do movimento em defesa da Palestina não contribui de forma positiva na luta contra o genocídio, mas, ao contrário, favorece a intensa perseguição realizada pela direita contra o partido.
O Hamas é designado como uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e países da União Europeia.
A Autoridade Nacional Palestina, no entanto, expressou discordância em relação à “solução militar” adotada pelo movimento.
O PT, em nota, afirma condenar tanto os ataques do Hamas quanto os de Israel. O presidente Lula (PT), por sua vez, já se referiu aos atos cometidos pela organização como “terroristas”.
PCO considera Hamas um “héroi” contra o imperialismo
O site Diário da Causa Operária, vinculado ao PCO, publicou um texto na segunda-feira, 13, no qual admite apoiar o Hamas e reclama da “hostilidade da esquerda com aqueles que defendem os heróis que lutam contra o imperialismo em Gaza”. O partido afirmou ter sido “desconvidado” do ato.
O texto também acusa as organizações de esquerda de “indiscriminada capitulação frente ao sionismo” e afirma que “a defesa do Hamas se mostrou muito popular”.
“Por conta da defesa que o bloco vermelho, formado pelo Partido da Causa Operária e pelos Comitês de Luta, vem fazendo do Hamas, a esquerda pequeno-burguesa fez o possível e o impossível para tentar sabotar os atos”, diz a publicação.