Candidato peronista encurrala Milei. Candidato de extrema-direita afundou em erros, falta de argumentos, silêncios e explicações incompletas durante as duas horas de debate.
Bruno Falci, de Buenos Aires, para O Cafezinho
Neste domingo, 12 de novembro, os candidatos Sergio Massa (Unión por la Patria) e Javier Milei (La Libertad Avanza) protagonizaram o terceiro e último debate presidencial de 2023. Eles se cruzaram uma semana antes do segundo turno, que se realizará em 19 de novembro e definirá quem será o novo presidente a partir de 10 de dezembro. A troca de ideias, obrigatória por lei, organizada pela Câmara Nacional Eleitoral, aconteceu a partir das 21h na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA).
O sentimento generalizado nas redes, fóruns e, notadamente, na própria mídia da oposição, é que Sergio Massa foi o vencedor indiscutível e inapelável. O candidato da Unión por la Patria obteve uma vitória esmagadora. A diferença na habilidade oratória era enorme, assim como o absoluto despreparo de Milei em aspectos elementares.
Os seis eixos temáticos debatidos foram Economia, As relações da Argentina com o mundo, Educação e saúde, Produção e Trabalho, Segurança Direitos Humanos e Coexistência Democrática. Milei foi derrotado em todos eles.
O primeiro bloco temático foi decisivo, e fundamentalmente na área da Economia. O ministro e candidato peronista sugeriu que o opositor de extrema-direita se acalmasse. “Vou te dar um conselho: não seja agressivo, porque o que as pessoas esperam são respostas. Se há algo que eles esperam é que no dia 10 de dezembro comecemos a construir políticas de Estado. Ofendendo, atacando, você não vai construir”, expressou.
Ainda nesse bloco, Massa encurralou Milei com o meme “sim ou não” e o levou a passar todo o tempo na defesa. A partir bastava Massa manter aquela enorme vantagem inicial, mas a distância aumentou. O adversário afundou em erros, falta de argumentos, silêncios e explicações incompletas durante as duas horas de debate.
Massa disse que “acredita em uma Argentina federal e produtiva, que deve proteger suas empresas, sua indústria e seus trabalhadores”. Disse também, no debate presidencial, que o seu rival, Javier Milei, é “semelhante ao que nos sugere (ex-ministro da Economia da última ditadura José) Martínez de Hoz, já que propõe uma abertura indiscriminada (da economia) e isso eliminará o direito à compensação dos trabalhadores”
Presidente do trabalho
Em relação aos direitos ambientais e ao acesso à terra para moradia própria, Massa levantou propostas específicas como o programa de loteamentos com serviços e a punição dos crimes ambientais. Sobre a educação, assumiu o compromisso concreto de aumentar o investimento e o desenvolvimento de centros educativos infantis, Milei optou pelo silêncio e não debateu essas questões.
No que diz respeito às relações internacionais e econômicas, Milei nem sequer consegue compreender que a regulação do comércio não é uma decisão tomada na Argentina. A Organização Mundial do Comércio e os países centrais exigem regulamentações estatais para esse fim. O rompimento das relações diplomáticas com o Brasil ou a China, por exemplo, implicaria a destruição do comércio com esses países, acrescentando a isso dois milhões de desempregados. Da mesma forma, Milei negou a disparidade salarial entre homens e mulheres.
Massa expressou que “um dos meus grandes sonhos é ser presidente do trabalho” e afirmou que se propôs “criar 2 milhões de empregos registrados” de mãos dadas com o “esforço de empresários e trabalhadores”. Ele enumerou algumas das medidas nesse sentido, a partir de 1º de janeiro como a redução do sistema tributário, a transformação dos planos sociais em trabalho formal e registrado, e o fortalecimento das economias regionais, com zero de retenções”.
No domingo, 19 de novembro, estarão em campos opostos, pela primeira vez desde a redemocratização, na Argentina, em 1983, essas duas visões de mundo: de um lado, a defesa da democracia e dos direitos sociais; de outro, o obscurantismo, a implantação de um modelo predatório e repressivo que conduzirá o país à dolarização, à destruição dos subsídios, ao retorno dos valores do sinistro passado ditatorial, que atingiu mais de 30 mil desaparecidos.