Com foco nas eleições municipais do próximo ano, segundo a Folha, o Partido dos Trabalhadores (PT) ampliou sua base de filiados, aumentou sua representação em prefeituras e conseguiu incorporar até mesmo prefeitos vinculados ao Partido Liberal (PL), que é a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Impulsionado pela eleição de Lula para a Presidência no ano passado, o partido conquistou 51 novos prefeitos por meio de mudanças partidárias, conforme indicam os dados fornecidos pelos 26 diretórios estaduais. A legenda passou de 183 prefeitos eleitos em 2020 para os atuais 234 gestores municipais.
Aproveitando a maré favorável, o partido está começando a superar o cenário desafiador de 2020, quando obteve seu pior desempenho desde 1996, com 183 prefeitos eleitos. O auge do partido em eleições municipais ocorreu em 2012, durante a presidência de Dilma Rousseff, quando conquistou 644 prefeituras.
O crescimento recente do PT foi impulsionado pelos estados do Piauí, Ceará e Bahia, todos liderados por governadores filiados ao partido. Além disso, observaram-se novas filiações específicas nos estados do Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Maranhão e Mato Grosso do Sul.
A perspectiva é de que o número de prefeitos filiados ao PT continue aumentando até abril de 2024, que é o prazo limite para novas filiações de políticos que pretendem concorrer nas eleições.
“Ao contrário do que acontece nos cargos proporcionais, os prefeitos são donos do próprio mandato, logo podem migrar a qualquer tempo, sem punições. Os custos para migração são baixos”, avaliou Vitor Sandes, cientista político e professor da Universidade Federal do Piauí.
Ele ressalta que há um movimento pendular em direção aos partidos aliados ao presidente, cujo poder de atração é mais significativo nos municípios mais dependentes de recursos federais.
Não coincidentemente, o maior aumento no número de prefeituras ocorreu no Piauí, um estado governado pelo PT pela quinta vez, apesar de estar na oposição ao governo de Jair Bolsonaro.
Em 2020, a influência de Ciro Nogueira no governo contribuiu para impulsionar o desempenho do PP, alcançando 83 prefeituras no estado. Agora, com a vitória de Lula, é o PT que está experimentando um crescimento significativo: o partido passou de 22 prefeitos eleitos para os atuais 49 e está considerando novos pedidos de filiação.
“Há uma disputa pela marca do PT, que é muito forte no nosso estado. Temos municípios em que dois grupos antagônicos pediram filiação ao partido. Chegamos a rejeitar alguns pedidos”, afirma o presidente estadual da legenda, João de Deus Sousa.
O partido estabeleceu como critério a filiação exclusiva de prefeitos que apoiaram tanto Lula quanto o governador Rafael Fonteles em 2022. Prefeitos que apoiaram a oposição têm optado por migrar para outros partidos alinhados ao PT no estado, principalmente o PSD e o MDB.
Na Bahia, o maior estado governado pelo PT, o partido incorporou dez novos prefeitos desde a vitória do governador Jerônimo Rodrigues no ano passado, elevando o total de gestores municipais de 32 para 42.
“A procura aumentou após as vitórias de Jerônimo e Lula. Voltou a estar na moda ser PT, por assim dizer. Mas estamos tratando essa questão com tranquilidade e maturidade. A porta não está fechada, nem tampouco escancarada”, afirma o presidente estadual do PT, Éden Valadares.
Ele afirma que aproximadamente 50 prefeitos em exercício buscaram o partido nos últimos meses. Contudo, a maioria deles esbarrou nos critérios estabelecidos pela legenda para analisar os pedidos de filiação.
Os critérios englobam a aprovação dos diretórios municipais e o compromisso de apoiar os candidatos a deputado do PT em 2026. Além disso, foram excluídos os nomes que apoiaram Bolsonaro ou ACM Neto (União Brasil), candidato derrotado ao governo, nas eleições do ano passado.
Mesmo assim, as adesões recentes não passaram sem desentendimentos com aliados. Na cidade de Esplanada, o partido recebeu a filiação do prefeito Nandinho da Serraria, eleito pelo PSDB, enfrentando críticas contundentes do grupo liderado por Alex Lima (PSB), ex-deputado estadual e assessor do governador.
“Os que irão amanhã vestir o manto vermelho são aqueles mesmos que pediram a queda da Dilma, a prisão do Lula, a chegada do Bolsonaro ao poder e flertavam com a ditadura. Não tem camisa bonita que embeleze uma alma podre. Nesse caso, no máximo, a camisa apodrece”, disparou Lima.
A liderança do PT minimiza as críticas e argumenta que é comum ocorrerem disputas locais entre partidos da base. Valadares comenta: “”Aí é ter responsabilidade e maturidade de deixar que a disputa local não contagie a aliança estadual”, diz Valadares.
Dois dos novos prefeitos que aderiram ao PT na Bahia anteriormente eram filiados ao PL, partido de Bolsonaro. Eles são Romi, da cidade de Planaltino, e Marcelo Emerenciano, de Cocos. No entanto, ambos não seguiram a orientação do próprio partido em 2022 e deram apoio a Lula nas eleições presidenciais.
Marcelo Emerenciano, que atua como médico e governa um dos polos do agronegócio na Bahia, afirma que a transição do PL para o PT ocorreu de maneira natural.
“Nunca escondi que sou simpatizante e votava com o PT. Não tenho alinhamento ideológico com o bolsonarismo. Sou de esquerda”, diz o prefeito.
Ele destaca que se sente à vontade no partido e expressa não ter receio da resistência de parte do agronegócio em relação aos governos petistas. “Quero quebrar preconceitos e ser uma ponte do setor com o partido”, diz.
No Ceará, o PT ampliou seu número de prefeitos de 18 para 32 após a eleição do governador Elmano de Freitas. A projeção é que esse número chegue a até 40 até as próximas eleições, e a meta do partido é alcançar cerca de 50 prefeitos nas urnas de 2024.
Pelo menos quatro dos novos prefeitos filiados ao PT anteriormente eram membros do PDT, partido que enfrenta uma crise interna entre os irmãos Cid e Ciro Gomes, dividindo-se entre aliados e opositores do governador.
Além disso, outros três prefeitos deixaram o PL: Wilamar Palácio, de Cariús, Marcondes Jucá, de Choró, e Francisco Mendes, popularmente conhecido como Meu Deus, de Santana do Acaraú. No entanto, o partido também conseguiu atrair gestores de siglas aliadas, como PSB, MDB, e até mesmo do PSOL.
Também foram registrados avanços isolados do partido fora do Nordeste. Em Mato Grosso do Sul, o PT recuperou a posição de prefeito após sete anos: João Alfredo Danieze, da cidade de Ribas do Rio Pardo, deixou o PSOL para se juntar ao PT em busca de um partido mais consolidado para tentar a reeleição.
No Rio de Janeiro, o PT admitiu a filiação da prefeita de Japeri, Fernanda Ontiveros, anteriormente do PDT, e agora o partido conta com representação em duas prefeituras no estado. A meta estabelecida para 2024 é eleger pelo menos dez prefeitos.
Mesmo em regiões consideradas bolsonaristas, o PT mantém um clima otimista. Isso é evidente em Santa Catarina, onde o partido conseguiu preservar os 12 prefeitos, expandiu o número de diretórios e planeja aumentar significativamente o número de candidaturas no próximo ano.
“Não somos mais vistos como um partido que está apenas marcando posição, nos tornamos uma alternativa de poder”, afirma o presidente estadual do PT, Décio Lima.