Embora ainda não tenha delineado completamente a estratégia para participar da eleição municipal do próximo ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já decidiu que se dedicará intensamente a pelo menos duas campanhas: a de São Paulo e a de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista. Com informações do O GLOBO.
Segundo líderes do PT, a previsão é que o líder máximo da sigla se engaje pessoalmente em áreas onde a oposição ao bolsonarismo seja evidente.
Isso se configura como um dos motivos pelos quais Lula se envolverá na campanha do pré-candidato do PSOL em São Paulo, o deputado Guilherme Boulos, que contará com o respaldo do PT. Uma das estratégias-chave do parlamentar é estabelecer uma ligação entre o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e Jair Bolsonaro. Nunes está em busca de uma aliança com o ex-presidente, tendo ambos já realizado encontros. Adicionalmente, existe a possibilidade de o ex-ministro Ricardo Salles ser o candidato apoiado por Bolsonaro.
No segundo turno da eleição presidencial, Lula superou Bolsonaro na capital paulista com uma margem de 53,54% a 46,46% dos votos válidos. Uma vitória de um candidato associado ao governo federal na maior cidade do país teria repercussões significativas na disputa política em curso com o grupo liderado pelo ex-presidente.
Diante dessa situação, é esperado que Lula participe de eventos e realize gravações para a propaganda eleitoral da campanha de Boulos. O PSOL e o PT de São Paulo estão empenhados em agendar uma agenda conjunta ainda este ano na cidade, contando com as presenças do presidente e do pré-candidato. Em 25 de outubro, Boulos se encontrou com Lula no Palácio do Planalto, compartilhando o encontro nas redes sociais. O presidente replicou a publicação.
Dentro da estratégia de campanha de Boulos, a intenção é explorar ao máximo a conexão com Lula, ao contrário do que ocorreu nas eleições de 2020. Naquela ocasião, o líder sem-teto não estabeleceu uma ligação direta com o petista, mesmo no segundo turno, quando o PT formalmente o apoiou. O candidato do PSOL exibiu Lula apenas em um anúncio no qual também figuravam Flávio Dino, Marina Silva e Ciro Gomes. Na época, o petista ainda enfrentava os efeitos políticos das condenações na Operação Lava-Jato, que posteriormente foram revistas.
Dupla motivação
Além da motivação de polarizar com o bolsonarismo, Lula mantém uma relação estreita com Boulos. No ano passado, o presidente esteve diretamente envolvido nas negociações que levaram o líder sem-teto a desistir de concorrer ao governo do estado para se unir à candidatura do petista Fernando Haddad. O acordo incluiu o compromisso de que o PT apoiaria Boulos na eleição municipal.
Na disputa pela prefeitura em 2020, Lula tentou, cinco dias antes do primeiro turno, persuadir o então candidato do PT, Jilmar Tatto, a recomendar o voto em Boulos, considerando o desempenho desfavorável nas pesquisas. No entanto, Tatto resistiu a essa sugestão.
ABC
Na eleição em São Bernardo do Campo, cidade onde Lula iniciou sua carreira política como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a conquista do município é considerada uma questão de honra pelo ex-presidente. Esta cidade foi o berço da fundação do PT.
Durante o segundo mandato de Lula (2007-2010), o PT implementou uma operação especial para garantir a vitória na cidade. Contando com uma das campanhas mais dispendiosas do país naquela época, Luiz Marinho, atualmente ministro do Trabalho, foi eleito prefeito em 2008.
Naquele período, a cidade começou a receber substanciais recursos federais. Em 2011, já sob a presidência de Dilma Rousseff, tornou-se o município brasileiro mais favorecido por repasses do governo federal através de convênios. Recebeu um total de R$ 122 milhões (em valores da época), enquanto São Paulo recebeu R$ 52,7 milhões e o Rio, R$ 78,8 milhões.
Este ano, Lula tem estado envolvido nas articulações do pré-candidato do PT, Luiz Fernando Teixeira, que inclusive foi recebido no Palácio do Planalto em agosto. O Sindicato dos Metalúrgicos também planeja se envolver ativamente na campanha.
Na cidade do ABC, não existe horário eleitoral, razão pela qual a participação de Lula deverá focar na presença em eventos. O atual prefeito, Orlando Morando, é filiado ao PSDB e mantém uma posição opositora marcada em relação ao PT.
É provável que Lula dedique esforços à campanha do petista Emídio de Souza em Osasco, na Região Metropolitana. Emídio, atualmente deputado estadual em São Paulo, mantém uma amizade próxima com Lula. Após a eleição, seu nome foi cogitado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, cargo que acabou sendo ocupado por Márcio Macedo.