Carlos Bolsonaro era o chefe do ‘gabinete de ódio’, denuncia Mauro Cid

Foto: Sérgio Lima/Poder360

Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid declarou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, liderava o chamado “gabinete do ódio”. Com informações do Uol.

O grupo é composto por assessores do Palácio do Planalto que estão sendo investigados por supostas práticas de ataques aos adversários e às instituições democráticas por meio de publicações em redes sociais.

Cid também associou diretamente Jair Bolsonaro à propagação de notícias falsas que atacam as urnas eletrônicas, corroborando as suspeitas levantadas pela Polícia Federal. Isso ocorreu após a descoberta de mensagens do então presidente no celular do empresário Meyer Nigri.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, homologou a delação premiada de Mauro Cid no início de setembro. Após esse processo, o ex-ajudante de ordens da Presidência foi libertado da prisão.

Três fontes que acompanharam as negociações do acordo confirmaram as informações ao UOL. O caso está sendo examinado pela equipe liderada pelo subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos. Em entrevistas na semana passada, Santos declarou que Mauro Cid não apresentou evidências que respaldem seus relatos. Ele mencionou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) recomendou à Polícia Federal a realização de diligências para obter elementos de corroboração.

Ex-assessores de Carlos

Tercio e Matheus. Foto: Cristiano Mariz/VEJA

Os integrantes do “gabinete do ódio” incluíam os assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. Nos bastidores, a atribuição de suas nomeações para cargos no governo Bolsonaro era frequentemente associada a Carlos Bolsonaro. Vale notar que Tércio e José Matheus já haviam desempenhado funções como assessores no gabinete de Carlos na Câmara do Rio anteriormente.

No seu testemunho, Cid destacou que o vereador tinha a responsabilidade pelas estratégias do então presidente nas redes sociais. Além disso, conforme relatado por Mauro Cid, Carlos Bolsonaro emitia ordens e exercia o comando sobre o “gabinete do ódio”.

O grupo já estava sob investigação no âmbito do inquérito das milícias digitais, que examina a participação dos assessores do Palácio e de Carlos Bolsonaro nos ataques às instituições democráticas. O testemunho de Cid destaca, pela primeira vez, o papel de influência exercido por Carlos sobre o grupo.

As investigações da Polícia Federal têm identificado evidências de que essas milícias digitais promoveram ataques às instituições, contribuindo para disseminar um clima de desconfiança em relação ao processo eleitoral. Esse cenário incentivou movimentos que contestaram os resultados das eleições, culminando em atos antidemocráticos em unidades militares. Esse padrão de ação pode ser considerado um dos fatores que contribuíram para os eventos golpistas ocorridos em 8 de janeiro, de acordo com a fase atual das investigações.

Em seu depoimento à Polícia Federal no inquérito dos atos antidemocráticos, Carlos negou ser o responsável pela propagação de ataques contra autoridades e afirmou que não mantinha vínculos com a política de comunicação do governo federal.

Foto: REUTERS

Mauro Cid também associou Jair Bolsonaro à propagação de informações falsas através das redes sociais

Segundo o tenente-coronel, Bolsonaro utilizava seu próprio celular para enviar mensagens contendo informações falsas que atacavam as urnas eletrônicas e diversas autoridades públicas, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A Polícia Federal já possuía evidências desse padrão, uma vez que descobriu diálogos no telefone celular do empresário Meyer Nigri. Conforme revelado por uma reportagem do UOL em agosto, a PF identificou pelo menos 18 mensagens enviadas por Bolsonaro ao empresário, nas quais o presidente realizava ataques ao Judiciário, às urnas eletrônicas e às vacinas.

Em decorrência disso, os investigadores indagaram a Mauro Cid se Bolsonaro enviava as mensagens diretamente de seu telefone celular, questionamento ao qual o ex-ajudante de ordens confirmou.

Defesa

Em resposta, a defesa de Jair Bolsonaro negou qualquer irregularidade e criticou a delação de Mauro Cid. O advogado Fábio Wajngarten declarou em nota: “O eminente procurador leu toda a peça e concluiu que a mesma é fraca e desprovida de qualquer elemento de prova. A ‘delação’, segundo o procurador, mais se parece com uma confissão e o mesmo, por reiteradas vezes, disse que nada se aproveita”.

Em depoimentos anteriores à Polícia Federal, Carlos Bolsonaro, Tércio, José Matheus e Matos Diniz negaram ter promovido a disseminação de ataques às instituições democráticas.

Rhyan de Meira: Rhyan de Meira é estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele está participando de uma pesquisa sobre a ditadura militar, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira
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