Os deputados do PT enxergaram na saída da terceira mulher de um cargo relevante no governo uma oportunidade para intensificar a pressão sobre Lula, visando a nomeação de uma ministra para o Supremo Tribunal Federal (STF), preenchendo a vaga decorrente da aposentadoria de Rosa Weber. Com informações do O GLOBO.
Essa ala do partido considera que a diminuição da representação feminina no alto escalão tem tido um impacto negativo na popularidade do líder do Executivo. Portanto, os parlamentares apresentaram ao gabinete presidencial uma lista contendo o nome de oito mulheres que poderiam ser sugeridas como candidatas para a Corte.
Além de Rita Serrano, que foi destituída da presidência da Caixa na semana passada, Ana Moser, ex-ministra do Esporte, e Daniela Carneiro, que ocupava a liderança do Turismo, também perderam seus cargos. Todas essas mudanças aconteceram em resposta aos interesses do Centrão, sendo que os substitutos indicados foram homens.
Uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest e divulgada na semana passada apontou uma queda de quatro pontos na avaliação positiva do governo Lula. Em apenas dois meses, a proporção de eleitores que aprovam a administração caiu de 42% para 38%, gerando preocupação entre os membros do Partido dos Trabalhadores (PT).
Essa ação não implica em retirar o apoio ao ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, que continua sendo o candidato preferido do partido. Ela visa, em vez disso, fornecer a Lula um conjunto de alternativas caso ele opte por nomear uma mulher para o Supremo.
Os nomes apresentados incluem a advogada criminal Dora Cavalcanti, a ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Regina Helena Costa, a desembargadora Simone Schreiber, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), a defensora pública Mônica de Melo, a advogada criminalista Flavia Rahal, a procuradora federal Manuellita Hermes, a advogada Lucineia Rosa dos Santos e a promotora de Justiça do Pará Ana Claudia Pinto. Dentre essas opções, Dora, Regina, Simone e Manuellita são as que desfrutam de maior apoio entre os aliados do presidente.
Dora, uma crítica da Operação Lava-Jato, é a candidata que possui a relação mais próxima com Lula, embora essa proximidade não se compare, por exemplo, à relação que o presidente tinha com Cristiano Zanin, indicado ao STF este ano. Dora já foi sócia do escritório do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, um dos principais conselheiros jurídicos de Lula durante seus dois primeiros mandatos, e também atuou como advogada da Odebrecht, o que incluiu a defesa de Marcelo Odebrecht. Além disso, ela apoiou campanhas do PT, incluindo a de Fernando Haddad para a Presidência em 2018.
A ministra Regina Helena tem duas nomeações de membros do Partido dos Trabalhadores em seu histórico profissional. Ela foi nomeada para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2013, e também foi nomeada por Lula como desembargadora do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF da 3ª região) em 2003. No STJ, ela conta com o apoio e simpatia da ministra Cármen Lúcia e da ex-ministra Rosa Weber.
Simone, que também é crítica da Operação Lava-Jato, votou a favor da imposição de censura ao juiz federal Marcelo Bretas, devido à sua participação em um comício ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e do candidato à reeleição à Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella. Por outro lado, Manuellita, a única mulher negra na lista, ocupa o cargo de procuradora-geral da Advocacia-Geral da União (AGU) e atua como consultora jurídica no Ministério dos Direitos Humanos.
Os nomes das candidatas foram apresentados no gabinete presidencial na semana passada. Pessoas próximas a Lula solicitaram informações adicionais sobre algumas das candidatas. Na última sexta-feira, pela primeira vez, o presidente admitiu a possibilidade de indicar uma mulher para o Supremo quando foi questionado durante um encontro com jornalistas no Palácio do Planalto. Anteriormente, Lula vinha declarando que o gênero não seria um critério para sua escolha.
“Pode ser mulher, pode ser homem, pode ser negro, pode ser negra”, disse Lula.
Embora o apoio preferencial do grupo de deputados do PT continue sendo para o nome de Messias à vaga, eles passaram a considerar como algo positivo a possibilidade de Lula indicar uma mulher para a vaga de Rosa Weber, principalmente devido à redução da representação feminina no governo. Essa indicação de uma mulher para o STF poderia ser vista como um gesto positivo dentro desse contexto. Além disso, a escolha de uma mulher poderia poupar Lula do constrangimento de optar entre Messias e o ministro da Justiça, Flávio Dino, uma vez que ambos estão bem posicionados na corrida e fazem parte do círculo mais próximo de conselheiros jurídicos do presidente.