Sob investigação do Conselho Nacional de Justiça após uma correição ordenada pelo ministro Luis Felipe Salomão na 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-juiz parcial e atual senador Sergio Moro (União-PR) colocou em prática um plano de fuga para escapar do oficial de justiça encarregado de notificá-lo sobre a investigação em andamento.
De acordo com informações do O Globo, o oficial de justiça devolveu as intimações destinadas a Sergio Moro e à sua substituta na 13ª Vara, a juíza Gabriela Hardt, em 29 de setembro, após tentativas infrutíferas de entregá-las a ambos.
O oficial visitou o escritório do senador em Curitiba duas vezes, mas não conseguiu encontrá-lo. Após solicitar o número de telefone de Moro, esse pedido foi negado pelos assessores do senador.
Após obter o número, o oficial deixou um recado e enviou seu próprio número de telefone, mas Moro ignorou a mensagem e não retornou a ligação do oficial. Enquanto isso, Gabriela Hardt respondeu ao contato do oficial de justiça informando que estava em viagem aos Estados Unidos.
A investigação inédita em curso contra Moro e Gabriela Hardt está focada em possíveis irregularidades que teriam ocorrido durante o período em que Moro atuava como juiz, relacionadas à gestão de recursos substanciais provenientes dos acordos de colaboração e leniência firmados pela extinta operação Lava Jato com a Petrobrás e homologados pela 13ª Vara Federal de Curitiba.
Além deles, a corregedoria está investigando também os desembargadores federais Loraci Flores de Lima, João Pedro Gebran Neto e Marcelo Malucelli, todos do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
A revisão conduzida na 13ª Vara e no TRF-4 revelou uma “gestão caótica” dos recursos provenientes dos acordos de leniência entre 2015 e 2019, um período durante o qual a Petrobrás estava sob investigação nos Estados Unidos e Moro era o responsável pela 13ª Vara Federal, que homologou esses acordos com a empresa petrolífera.
Luis Felipe Salomão observou que Moro permitiu o repasse de R$2,1 bilhões à Petrobrás durante o período investigado, levantando suspeitas de “violação reiterada dos deveres de transparência, prudência, imparcialidade e diligência inerentes ao cargo”.
O corregedor nacional de Justiça destacou que essas transações foram realizadas com pressa para executar imediatamente os termos dos acordos firmados pela força-tarefa, o que acabou resultando em uma espécie de contorno do devido processo legal.
Em essência, Salomão sugere que Moro, agindo em seus próprios interesses e em prol da Lava Jato, então liderada pelo procurador Deltan Dallagnol, tentou direcionar esses recursos dos acordos de leniência para estabelecer a “Fundação Lava Jato”, sediada em Curitiba e que supostamente seria destinada a combater a corrupção.
“No processo e na atividade judicante, não se deve usar a alegada luta contra a corrupção como uma cortina de fumaça para praticar as mesmas condutas que se tenta reprimir”, declarou Salomão em seu despacho que ordenou a abertura da investigação contra Moro.