A presença de mais de 30 partidos torna o país praticamente ingovernável, não apenas para quem está no poder, mas também para a oposição. Em um Congresso repleto de partidos de aluguel, como o Executivo formará maioria nas votações? Teríamos que criar cerca de 100 ministérios para compensar o estrago causado pelas emendas.
E como temos uma multidão de partidos focados em seus interesses particulares, isso acaba gerando crises recorrentes de representatividade. Com menos partidos, uma figura como Moro seria vice em alguma chapa e talvez até mesmo Bolsonaro teria mais dificuldades para alcançar a presidência da República ou concorrer à reeleição. A dificuldade o ex-presidente em encontrar um novo partido e acabar se filiando ao PL são provas disso.
Além disso, as emendas enfraquecem os partidos ao abrir uma linha de negociação direta com cada parlamentar, ignorando a orientação partidária e as lideranças das bancadas. Quanto mais fracos são os partidos, pior é a oferta de candidatos para a sociedade. As últimas deixam isso claro, com uma enxurrada de candidatos ruins nas eleições para deputado, senador, governador e presidente.
O caso mais flagrante sobre essa crise veio de Porto Alegre, onde um candidato claramente inconformado com o término de seu relacionamento com a então candidata Manuela d’Ávila usou a campanha eleitoral para promover uma série de picuinhas contra ela.
E em 2022 também tivemos uma nova leva de políticos ruins, vide figuras como Luiz Felipe d’Avila e o pseudopadre Kelmon.
Um resumo da tragédia: um presidente sequestrado, políticas públicas prejudicadas e o interesse público escanteado.
É nesse contexto que Lula fez a seguinte declaração essa semana:
“Eu não fiz negociação com o Centrão. Eu não converso com o Centrão. Vocês nunca me viram fazendo reunião com o Centrão. Eu faço conversas com partidos políticos, que estão ali legalizados, que elegeram bancadas. E que, portanto, são com eles que eu tenho que conversar para estabelecer um acordo que eu tenho que fazer”.
Um esforço, ainda que singelo e dentro das possibilidades, de se mostrar a importância de se fortalecer os partidos, só assim o centrão poderia acabar.
O país precisa urgentemente de uma reforma política profunda.