A oposição continua comemorando uma vitória que não seria possível sem a base do governo, e o governo continua concedendo vitórias à oposição.
Na última quarta-feira (25), o plenário do Senado rejeitou, por 38 votos, a indicação de Igor Roberto Albuquerque Roque para o cargo de Defensor Público-Geral Federal da Defensoria Pública da União (DPU).
A interpretação de membros do Congresso Nacional e do governo é que Igor Roberto foi abandonado, mas não como parte de uma estratégia organizada ou plano elaborado, e sim por mero e simples desinteresse.
Seria interessante para o governo dar certa força política para Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado, para que ele não se sentisse desprivilegiado após Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, conseguir mais um cargo no governo? Sim, mas isso é mais um ganho colateral.
O que circula por Brasília é que na verdade quase todo mundo no Congresso e até mesmo no governo gostava de Daniel Macedo, o Defensor Público-Geral anterior. No entanto, a amplitude de apoios que o defensor agregava incomodava o presidente Lula.
Macedo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, no final de seu mandato, para ser reconduzido ao cargo que já havia ocupado por indicação do ex-presidente.
E parece que mesmo permitindo uma Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), um Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e outras dezenas de postos no executivo federal coalhados por extremistas do governo anterior, nesse aspecto específico, gerou incômodo o histórico sobre como o ex-Defensor Público-Geral chegou ao cargo.
Não por menos, sem ao menos dialogar direito com a base, escolheu de maneira açodada o segundo na lista, Igor. Mesmo que Daniel contasse com apoio expressivo dentro da base governista. Uma mudança dessas necessita muito de articulação política. Não que o governo não possa e tampouco tenha liberdade para indicar os seus nomes. Porém, como tudo na política, é necessário diálogo. Algo que faltou.
E é aí que se dá o abandono do governo: o governo realmente (ao contrário do que custei a acreditar) foi para a votação sobre a sua nomeação sem sequer contar quantos votos tinha. Lula, pelos mais variados motivos, não se preocupou sequer em conversar com lideranças no Senado e Igor ficou sozinho, indicado pelo governo mas sem o governo.
É claro que a situação estranha geraria um resultado ainda mais exótico: a recusa de um indicado do governo pelo Senado, algo que acontece com a mesma frequência que a passagem do cometa Harley pela Terra.
Foi assim que, sem fazer o menor esforço, a oposição ganhou uma vitória direto das mãos do governo que acha ter algum poder ou capacidade depois dessa trapalhada. Por sorte o governo conseguiu ganhar algum louro na questão do Pacheco mas fica aí o vexame público.
Nem sempre um governo, seja ele de Lula ou de qualquer outro, será só vitórias, aprovações e aplausos. As derrotas sempre serão uma constante, é normal, é do jogo. Porém, o governo federal pode sempre escolher as suas derrotas ou o impacto delas e foi o que não ocorreu.
Ao sequer se preocupar com algo primário como a contagem de votos ou até mesmo não se engajar na aprovação de seu indicado por mero desinteresse, o governo mostra que ainda precisa trabalhar muito a sua articulação política. Algo reconhecido por fontes ouvidas pela coluna.
Não é a primeira vez que o “governo escolhe” pela trapalhada.
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