Pesquisa aponta vitória de Massa no 2º turno. Peronismo mantém sua coerência propondo uma unidade nacional com outras forças politicas. Milei se contradiz e faz aliança com a “casta politica” que tanto atacou em sua campanha.
Bruno Falci, de Buenos Aires, para O Cafezinho
Depois da contundente vitória do peronista Sergio Massa sobre a direita fascista de Javier Milei no primeiro turno das eleições presidenciais, realizadas na Argentina no domingo (22/10), muitas articulações politicas aconteceram, nos dias seguintes. Nesse cenário, foi divulgada a primeira pesquisa eleitoral sobre o segundo turno, dando uma ampla vitória de 44,6% para Massa, ficando o adversário com 34,2%, e brancos e indecisos, com 21%.
Abaixo, o gráfico da pesquisa.
A primeira articulação importante ocorreu na disputa pela prefeitura de Buenos Aires entre a direita de Jorge Macri, do Juntos por el Cambio (JXC), e os peronistas do Leandro Santoro, de Unión por la Patria (UP). O campo progressista, numa tentativa de estabelecer alianças e cooptar votos da direita tradicional de Patrícia Bullrich, que ficou em terceiro lugar, com 23%, decidiu, em uma negociação, abrir mão da candidatura à prefeitura da capital, criando um relevante e inesperado fato político no país, dois dias após as eleições.
Outro fato político importante ocorreu nesta quarta-feira, (25/10). Em uma tentativa desesperada da extrema-direita que até então, acusava o peronismo e o macrismo de serem a elite política corrupta do país, Milei mudou totalmente a sua narrativa, afirmando ser agora apenas uma candidatura anti kirchnerista. Enquanto isso, em rede nacional, Bullrich declarou oficialmente apoio ao candidato de extrema-direita. Porém, como foi articulada dentro do campo do Juntos por el Cambio, a decisão acabou provocando uma implosão no campo da direita, criando um clima de conflito e divisão em suas fileiras, que acabou beneficiando a candidatura de Sergio Massa.
A extrema-direita, devido a isso, se encontra em um conflito interno provocado pelas contradições apresentadas em sua campanha. Ao invés de atacar Massa e o peronismo, atacam a si mesmo. Em uma mostra clara do desespero em que se encontra o campo fascista, Eduardo Bolsonaro, que esteve aqui em Buenos Aires para acompanhar a apuração do 1º turno, afirmou em uma postagem no X-Twitter que Milei teria ganho o apoio do quarto colocado, Schiaretti, uma informação totalmente falsa. A dissidência peronista não declarou apoio a ninguém, porém a recente pesquisa aponta que a maior parte de seus votos (Schiaretti obteve quase 7%) iriam para o campo progressista de Massa.
Por outro lado, a Unión Cívica Radical (UCR), importante partido centenário da direita, com forte eleitorado e expressiva bancada de deputados e senadores, tomou a decisão de se afastar do macrismo. O partido optou por não apoiar nenhuma candidatura, mesmo que algumas lideranças façam, de forma velada, campanha para Massa.
Na televisão e nas redes fica nítida uma guerra declarada no campo da direita. O prejuízo político para a candidatura de Milei não se encontra somente aí. A implosão também atingiu o seu partido, La Liberdad Avança (LLA), devido à mudança radical de sua narrativa contrária à elite política do país, que ele denominava de casta e que agora procura para fazer alianças.
Essa movimentação desesperada e instável ocorre devido ao surpreendente resultado do peronismo, que se mantém fortalecido apesar de sofrer fortes ataques, como a perseguição política e jurídica contra a sua mais importante liderança, Cristina Kirchner, que governou o país por duas vezes e que, atualmente, é vice-presidenta. Ela inclusive, sofreu uma tentativa de magnicídio no ano passado, em uma via pública de Buenos Aires, que a levou a abrir mão da candidatura à presidência, apesar de ser a personalidade política mais popular do pais.
O peronismo também sofre ataques devido a grave crise econômica argentina. No entanto, a mídia hegemônica distorce e esconde a sua origem, buscando responsabilizar o governo atual. Trata-se de uma crise gerada pela casta política que hoje é aliada de Milei, à qual pertence o ex-presidente Mauricio Macri, que governou o país de 2015 a 2019 e fez um empréstimo de quase 50 bilhões de dólares ao FMI- Fundo Monetário Internacional – para tentar se reeleger.
Depois das eleições fica perceptível o nível de politização da sociedade argentina, que não caiu nessa armadilha, como aponta o resultado do primeiro turno e a recente pesquisa eleitoral para o segundo turno. Tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, o peronismo se mantém como a maior força política do país e não terá muita dificuldade para formar maioria para governar.
A recente pesquisa realizada pela Proyección Consultoria, com margem de erro de 2,6%, mostra os posicionamentos do eleitorado da direita de Bullrich, da cisão peronista de Juan Schiaretti (Hacemos por Nuestro País/HNP) e dos trotskistas de Myram Bregman (Frente de Izquierda/FIT-U). Percebe-se que boa parte desses votos poderá ir para Massa e que muitos eleitores preferem se abster ou votar em branco. Essa pesquisa foi realizada antes do suicídio político cometido por Milei e Bullrich, que, com suas alianças, optaram por morrer abraçados.
Um último elemento a ser analisado é a força dos movimentos sociais, sindicais e a militância partidária peronista, que sairão às ruas mais motivados para derrotar a volta do fascismo na Argentina, cujo ciclo se encerrou no fim da ditadura militar, em 1983. Trata-se de outra significativa diferença em relação a Milei, que não possui enraizamento social, sendo um candidato artificial que se alimenta de ódio e negacionismo, disseminando mentiras em redes sociais.
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