O governo federal demitiu nesta terça-feira o número três da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em meio a uma investigação da PF relacionada ao uso de um software espião pela agência. Com informações do O GLOBO.
Maurício Fortunato Pinto estava no cargo de secretário de Planejamento e Gestão. Sua remoção já tinha sido ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com informações reveladas em março pelo jornal O GLOBO, a Abin estava fazendo uso de um sistema secreto que possuía a capacidade de rastrear os movimentos de até 10 mil indivíduos por ano, sem a necessidade de autorização judicial. Para fazer isso, bastava inserir o número de telefone de um contato no programa e então acompanhar, em um mapa, a localização registrada com base na conexão de rede do dispositivo.
A ferramenta, chamada “FirstMile,” era de origem israelense e estava sendo operada pela equipe de operações da agência de inteligência, sem qualquer tipo de controle formal de acesso. Na época, essa equipe estava sob o comando de Fortunato.
Além disso, a Polícia Federal apreendeu uma quantia de US$ 171,8 mil em dinheiro vivo, o equivalente a aproximadamente R$ 872 mil na cotação atual, em uma residência vinculada ao diretor. A origem desses fundos ainda é desconhecida e será objeto de investigação por parte da PF.
De acordo com a colunista do GLOBO, Bela Megale, o sistema foi ativado em mais de 30 mil ocasiões. Entre essas ativações, os investigadores identificaram 2.200 casos relacionados a políticos, jornalistas, advogados e opositores do governo Jair Bolsonaro.
Paulo Maurício Fortunato era uma pessoa de grande confiança da alta cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Além disso, ele tinha experiência como ex-membro do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), que era um órgão de inteligência durante o período da ditadura no Brasil. Ao longo de sua carreira, ele ocupou posições de destaque em diferentes governos, especializando-se em operações de vigilância. Ele dedicava-se meticulosamente à missão de monitorar estrangeiros infiltrados no Brasil e a identificação de possíveis ameaças terroristas na América Latina.
Quando foi intimado a prestar depoimento à Polícia Federal, o oficial que ocupava o terceiro posto na Abin optou por permanecer em silêncio na sexta-feira passada. Ele não forneceu esclarecimentos relativos ao sistema de espionagem em questão e tampouco sobre os US$ 170 mil em dinheiro vivo que foram apreendidos em sua residência durante a operação policial. No entanto, em conversas com pessoas próximas, ele justificou sua postura afirmando que nunca havia operado o programa secreto e que não detinha a senha de acesso ao First Mile. Aqueles que haviam trabalhado com Fortunato, entretanto, asseguram que ele tinha conhecimento sobre o funcionamento da referida ferramenta.
Esse oficial esteve à frente da diretoria de operações da Abin durante o período em que o delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, ocupava um cargo de destaque na agência. Ramagem era conhecido por ser um fiel aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante sua gestão, o oficial conquistou a confiança da nova liderança da Abin, realizando com sucesso missões desafiadoras.
No entanto, a relação entre eles ficou abalada devido a um desentendimento relacionado à redução de uma parte dos fundos destinados ao pagamento de informantes. Fortunato defendia a manutenção da tradição da Abin, enquanto Ramagem optou por redirecionar esses recursos para a superintendência do Rio de Janeiro, onde ele havia sido eleito como deputado federal. Diante desse conflito, o então diretor de operações optou por renunciar ao cargo e se aposentar.
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