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Argentina: peronismo mostra sua força e vence no primeiro turno

Em grande virada eleitoral, contrariando prognósticos da mídia hegemônica, Massa derrota Milei e chega perto de ser eleito no primeiro turno. Militância faz a diferença nas ruas. Bruno Falci, de Buenos Aires, para O Cafezinho Apesar do lawfare e das perseguições jurídicas que tiraram Cristina Kirchner da disputa eleitoral e, inclusive, da tentativa de assassinato […]

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Militância lota o bunker peronista para comemorar a vitória de Massa. multidão lota as ruas próximas. Foto: Yemel Fil

Em grande virada eleitoral, contrariando prognósticos da mídia hegemônica, Massa derrota Milei e chega perto de ser eleito no primeiro turno. Militância faz a diferença nas ruas.

Bruno Falci, de Buenos Aires, para O Cafezinho

Apesar do lawfare e das perseguições jurídicas que tiraram Cristina Kirchner da disputa eleitoral e, inclusive, da tentativa de assassinato em via pública, em Buenos Aires, os peronistas conseguiram conquistar uma grande vitória eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais realizado último domingo, 22 de outubro. O candidato peronista Sergio Massa derrotou o candidato de extrema-direita Javier Milei. É importante destacar que, além de terem tirado Cristina da disputa eleitoral, também promoveram uma guerra econômica que provocou uma grande crise inflacionária no país.

A razão dessa crise é o empréstimo de quase 50 bilhões de dólares feito ao FMI – Fundo Monetário Internacional pelo governo anterior. O presidente era Mauricio Macri, da coalizão de direita Juntos por el Cambio, que usou esse dinheiro para tentar se reeleger, tendo perdido a eleição para a chapa do presidente Alberto Fernandes e da vice-presidenta Cristina Kirchner. Grandes mobilizações aconteceram nas últimas semanas na Argentina. Sindicatos, trabalhadores, estudantes e feministas saíram às ruas de Buenos Aires para defender Massa. Até mesmo Cristina participou de um grande ato, colocando sua segurança em risco, visando denunciar o perigo que representa a candidatura de Milei.

A militância peronista montou bancas com material de campanha em vários pontos da capital. O objetivo era esclarecer as propostas de Massa e denunciar as falsas verdades propagadas pelo candidato fascista. Todas essas mobilizações tiveram resultados positivos como mostraram as urnas. É importante observar que, para Massa ganhar no primeiro turno, faltaram apenas pouco mais de 3%. A próxima etapa, o segundo turno, ocorrerá em 19 de novembro de 2023, e o único debate presidencial entre dois candidatos está marcado para 12 de novembro. A posse do presidente será em 10 de dezembro.

Os resultados mostram o quanto é forte a cultura política peronista na sociedade argentina. Apesar da grave crise econômica que vive o país, da criminalização que atinge o kirchnerismo, contra a sua maior liderança política, as urnas, o povo, mas uma vez, demonstraram o enraizamento e a base social dessa ideia. Tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, a maior bancada é da coligação progressista Unión por la Patria (UP), ainda que seja necessário fazer políticas de alianças para obter a maioria para governar. Já a extrema-direita ficou como terceira força política no país, tendo que fazer negociações com outras forças para também obter uma maioria, A diferença é que a direita com sua forma virulenta e agressiva de fazer política, oposta ao do peronista Sergio Massa, não procura ter canais de diálogos com os outros setores dos quais os acusam de ser da elite política corrupta. Após o seu desastroso resultado, Milei percebeu que precisa mudar sua narrativa para poder ganhar as eleições e, futuramente, formar uma maioria que o permita governar.

Abaixo os gráficos, com resultados da Câmara dos Deputados e do Senado:

Diálogo e alianças

Em um simples cálculo eleitoral, analisando os resultados, e as composições das forças políticas do país, fica visível que para Massa conquistar uma vitória eleitoral, o cálculo alcançável, é necessário que ele siga o que está fazendo: dialogar e formar alianças com forças políticas da esquerda, do centro ou mesmo da direita, que tenham total desacordo com as ideias e a pessoa que representa Milei.

É possível e necessário conquistar o eleitorado de Juan Schiaretti, uma dissidência dentro do peronismo, assim como a candidata marxista Myriam Bregman, da Frente de Izquierda, considerando quer ambos têm total ojeriza à candidatura de extrema-direita. Somados, possuem quase 10% do total do eleitorado. Há alguns dias, Schiaretti afirmou que, em caso de Milei passar para o segundo turno, jamais o apoiaria, dando claros sinais de possibilidade de diálogo com Sergio Massa. O mesmo ocorreu com Bregman que afirmou, após os resultados de domingo (22/10), que os projetos de Massa e Milei são totalmente diferentes, sinalizando também possível apoio à candidatura peronista.

Outro importante trabalho que está fazendo Massa e seu campo político é o de atrair setores da direita de Juntos por el Cambio, de Bullrich, terceira colocada no primeiro turno com 23%. Como o partido Unión Cívica Radical (UCR), importante força política da direita e que pode atingir até 10% do total do eleitorado, muitos setores deste partido já declararam serem contra a candidatura de Milei e seu projeto de destruição total do país e seu negacionismo histórico e ambiental. Uma outra oportunidade que foi alcançada no primeiro turno em relação às prévias eleitorais é convencer os mais de 20% dos eleitores que não foram votar. A UCR reúne grupos com ideologias diversas como federalismo, liberalismo, nacionalismo, desenvolvimentismo e social-democracia, entre outras. Caracterizou-se por sua ideologia em defesa do secularismo, de inspiração igualitária, com raízes no federalismo tradicional, na instalação de uma democracia liberal no país, ao mesmo tempo em que foi amplamente representativa das classes médias argentinas durante o século XX. Desde 1996 pertence à Internacional Socialista.

É importante destacar que, nas eleições para governador das províncias na Argentina, nenhum candidato da extrema direita foi eleito. Esses dados demonstram a artificialidade e falta de penetração social da candidatura de Milei e de seu campo na Câmara dos Deputados, no Senado e nas representações   estaduais. Um candidato fake, de um partido fake, com projetos fakes,

Abaixo o gráfico do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais:

Massa propõe um governo de unidade nacional

“Vou convocar um governo de unidade nacional em 10 de dezembro como presidente, um governo construído na convocação dos melhores, independentemente da sua força política”, afirmou o candidato ao governo e atual ministro da Economia, Sergio Massa. Com apuração de mais de 98,51% dos votos, ele foi o grande vencedor no primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina, com mais de 36,68% dos votos. O segundo lugar foi obtido pelo candidato de extrema direita Javier Milei, com 30% dos votos. Ambos se enfrentarão no segundo turno no próximo domingo, 19 de novembro. A candidata da coligação Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich, ficou na terceira posição, com 23,83%.

Além da eleição presidencial, houve outra votação seguida com grande interesse, a do governo da província de Buenos Aires, que concentra 38% do eleitorado nacional: ali venceu o atual governador, o peronista e candidato pela Unión por la Patria, Axel Kicillof com 44,88% dos votos, com mais de 98% das urnas contadas. Vale lembrar que Kicillof venceu no primeiro turno.

Pela primeira vez, Sergio Massa falou em tom presidencial e apelou a todos os que não foram votar, aos eleitores de esquerda e de outras forças, a votarem nele no segundo turno, em novembro. Ele também criticou as propostas predatórias de Milei: “Quero dizer a vocês que meu compromisso é construir mais Argentina e mais argentinidade, e não menos. Meu compromisso é construir regras claras diante da incerteza. O meu compromisso é construir um país onde tenhamos, sem dúvida, a possibilidade de os nossos filhos optarem por ir à escola com um computador na mochila e não com uma arma”.

A reação negativa ao nome de Milei está ligada sobretudo às suas ideias econômicas: ele defende a dolarização da economia, o fim do Banco Central e tem um forte discurso contra as medidas de cunho social. A Argentina possui uma inflação que passa dos 100% neste ano e o candidato afirma que dolarizar o país será suficiente para domar a alta dos preços — o que economistas rechaçam. Milei defende “o plano motosserra” para conquistar o Estado. “No que se refere à reforma do estado haverá uma redução abrupta do gasto público”. Ele deixou explícito seu projeto de governo perante a Justiça Eleitoral, que foram derrotadas no último domingo: dolarização, privatizações, corte de aposentadorias e pensões, eliminação de indenizações, de planos sociais e anulação do aborto legal, que é permitido na Argentina, introdução de leis brandas sobre armas e a legalização do mercado de órgãos.

O resultado contrariou todas as estimativas da mídia hegemônica que, apoiada na maioria das pesquisas eleitorais, apostavam na vitória de Milei, inclusive com possibilidade de se eleger sem necessidade de segundo turno. As pesquisas não conseguiram registrar a mobilização da militância peronista nas últimas semanas, em toda a Argentina.

“Saiba que não vou decepcioná-los”, prometeu Massa, confirmando sua vitória, no quartel-general da campanha. No local e nas ruas próximas, completamente ocupadas, uma multidão entusiasmada agitava bandeiras, cantava canções e ouvia o pronunciamento do candidato peronista.

Emocionado, Massa acrescentou:

“Quero pedir que aproveitem este momento para reflexão, para falar com todos os argentinos. Quero agradecer aos mais de 25 milhões de argentinos que foram votar, eles votarão em quem votaram, porque 40 anos depois da nossa era democrática, os argentinos manifestam e abraçam este sistema”.

Massa menciona a preocupação de vários governantes de outros países com o destino político da Argentina:

“Quero também dizer-lhes que ao longo do dia recebi, e muito mais depois das 7 da noite, de muitos presidentes e líderes de outros países que obviamente observavam com enorme interesse o que se passava nas eleições de hoje. porque “sabem que queremos uma Argentina integrada, que acreditamos no multilateralismo e que somos garantidores da estabilidade e da segurança nas relações com o mundo”, acrescentou.

Massa comentou alguns aspectos centrais de seu projeto político:

“É importante estabelecer os pilares da política de Estado: vamos convocar um governo de unidade nacional para construir uma indústria argentina forte, que queira mais educação pública, a construção de um regime trabalhista moderno sem abrir mão dos direitos conquistados. Quero apelar à Argentina para que enfrente o mundo e não doe os seus recursos naturais.”

Massa mandou uma mensagem aos eleitores dos demais partidos:

“Esta noite quero falar também aos argentinos que votaram em branco, ou ficaram em casa, ou que elegeram Myriam (Bregman) ou Juan (Schiaretti), esses radicais que compartilham nossos valores”, disse, dirigindo-se  ao eleitorado dos demais concorrentes. E acrescentou: “Falarei também com aqueles que escolheram outra opção, com a necessidade de uma Argentina em paz, com ordem, aqueles que querem um país sem incertezas e com certezas”.

“A nossa democracia está mais forte e robusta, e isso deve encher-nos de orgulho. Eu tinha que ser o rosto, mas não tenha dúvidas que na força, na vontade, no empenho que, de ponta a ponta do nosso país, encontre em cada um de vocês a energia que nos permitiu crescer 15 pontos desde as primárias até hoje”, concluiu Massa.

A partir desta segunda-feira começa uma campanha diferente: Massa tentará se firmar como representante de um arco republicano multipartidário e pedirá unidade contra os ultraliberais. Milei, que teve vários contratempos nos últimos dias de campanha, terá que ver qual estratégia seguirá. Se ele continuar com seus slogans e gritos, a possibilidade de perder para Massa é real.

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Comentários

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carlos

24/10/2023 - 17h24

Os argentinos estão ficando velho e não pra votar num vagabundo igual ao ex daqui, eles tem cultura, são profissionais com curso superior até os ruriculas lá são aculturados não são burros, e nem malandros igual os daqui.


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