“Ele atuava em casos de disputa de terras, que envolvem pessoas de poder”, diz família de juiz assassinado

Foto: TJPE

Chocados com a notícia do homicídio do juiz Paulo Torres Pereira da Silva, de 69 anos, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana de Recife (PE), a família da vítima disse não acreditar na possibilidade de que o crime tenha sido desencadeado por uma disputa no trânsito ou um assalto à mão armada.

Em uma entrevista ao GLOBO, o irmão do juiz, Eurico Torres Pereira da Silva, sugeriu que o incidente poderia ser uma execução, possivelmente relacionada ao trabalho de Paulo, que envolvia questões de regularização fundiária, entre outros casos.

“Não acreditamos em briga de trânsito nem em assalto. Esse crime bárbaro e desumano tem relação com o trabalho que ele desempenhava sempre com muito sigilo. Juiz é uma classe muito visada por trabalhar com a justiça. Tenho certeza que meu irmão não se venderia. E apesar de trabalhar na área cível, ele atuava em casos de disputa de terras, que envolvem pessoas de poder”, relatou o irmão da vítima ao jornal.

O juiz foi assassinado dentro de seu veículo, um Honda WR-V, por volta das 20h, quando criminosos em outro automóvel se aproximaram e dispararam vários tiros. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi despachada para o local, mas ao chegar, constatou que o juiz já estava morto. A Polícia Militar foi notificada por volta das 20h30.

Paulo Torres Pereira da Silva, carinhosamente conhecido como Paulão, era apreciado por todos os membros do Poder Judiciário de Pernambuco. Ele deixou sua esposa e três filhos. Com uma impressionante trajetória de quase 34 anos como juiz no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), ele também serviu em diversas ocasiões como desembargador substituto.

Apesar de Paulo atuar principalmente na área cível, organizações de direitos humanos também expressaram sua solidariedade à família. Manoel Soares, um advogado que representava residentes de baixa renda em processos de regularização fundiária na 21ª Vara Cível, onde Paulo Torres estava lotado, e que também é o coordenador-geral do Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social, destacou que todos no estado, especialmente na comunidade jurídica, estão profundamente chocados, uma vez que a vítima era reconhecida como um magistrado extraordinariamente “humano”.

“É muito chocante. A situação é gravíssima e a violência usada desproporcional. Todos estamos estarrecidos. Como atuamos na área de regularização do solo urbano, em muitas ações sobre usocapião em benefício de pessoas carentes, tivemos alguns processos que ficaram sob os cuidados do dr. Paulo Torres. Ele era extremamente humano, um defensor da dignidade humana. Nós tínhamos por ele um grande carinho e respeito. Só temos a lamentar o que aconteceu com uma pessoa que era um diferencial na área jurídica, exitoso e correto”, afirmou Soares.

Em declaração ao GLOBO, a Assessoria Policial Militar e Civil do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) esclareceu que o magistrado Paulo Torres da Silva Pereira não havia solicitado serviços de segurança nem reportado ameaças. O Tribunal está em processo de contatar as autoridades policiais de Pernambuco e se compromete a oferecer total apoio para facilitar a investigação rápida do crime e a responsabilização dos culpados, como destacado no comunicado.

Rhyan de Meira: Rhyan de Meira é estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele está participando de uma pesquisa sobre a ditadura militar, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira
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