Publicado em 18/10/2023
Por Jing Xuan Teng
Xangai (China) | AFP — A iniciativa chinesa das “Novas Rotas da Seda”, um extenso projeto de infraestrutura, completa dez anos nesta semana. O projeto é criticado pelas dívidas que acarreta nos países pobres, mas seus defensores dizem que ele é uma ferramenta de desenvolvimento econômico.
A China recebe representantes de 130 países para um fórum que celebra os dez anos do plano.
1- Dívida e gastos opacos
O projeto busca melhorar as relações comerciais entre continentes, mediante a construção de portos, linhas ferroviárias, aeroportos ou parques industriais.
Essas infraestruturas permitem aos países seguir com seu desenvolvimento e à China acessar mais mercados, assim como abrir novas vias para suas empresas.
O projeto já gerou US$ 2 trilhões em contratos em todo o mundo, segundo o governo chinês, e uma dívida de US$ 300 bilhões contraída pelos países participantes.
Essa dívida se agravou em decorrência da pandemia da Covid-19, com a inflação galopante e o aumento das taxas de juros.
Trem de alta velocidade que liga Laos à China é um dos projetos na Nova Rota da Seda – Chen Chang/ Xinhua
Entre os projetos mais emblemáticos está a conexão com um trem de alta velocidade entre Laos e China, que foi inaugurado em 2021 e custou cerca de US$ 6 bilhões. Ou a criação de um “corredor econômico” entre o oeste do gigante asiático e o Paquistão.
Além disso, Pequim teve de lançar vários planos de resgate aos países que precisavam de mais tempo.
Os detratores da iniciativa também criticam a opacidade de alguns projetos, como na Malásia ou no Mianmar.
Por sua vez, a população constata que a maioria do emprego gerado está destinado a trabalhadores chineses.
2- Influência chinesa
Este megaprojeto tem um claro objetivo diplomático, ao apresentar a China como um aliado dos países do hemisfério Sul, enquanto suas empresas se incorporam em numerosas economias emergentes.
Essa dimensão geoestratégica preocupa os países ocidentais, que veem uma vasta operação de influência de Pequim. E nos países em que se implementa é percebido como uma maneira de interferir na política local.
Djibuti, por exemplo, Pequim instalou uma base naval estratégica, entre o Mar Vermelho e o Golfo de Aden, supostamente para reabastecer navios e contribuir em operações humanitárias e de paz neste pequeno país africano.
Os Estados Unidos afirmam, sem ter provado, que com estas Novas Rotas da Seda, a China gostaria de instalar bases militares nesses países para proteger seus investimentos.
3- Pegada de carbono
Essas obras colossais também preocupam por seu impacto ambiental.
O desenvolvimento de grandes portos, linhas ferroviárias ou rodovias poderia impedir o alcance dos objetivos do Acordo de Paris, alertaram em 2019 pesquisadores da China, da ONU e do Reino Unido.
Outro relatório, da Universidade de Boston, advertiu sobre o perigo para as terras indígenas e o ecossistema em geral por não prever suficientemente os riscos ambientais e sociais.
A China assegura que faz o máximo e se comprometeu em 2021 a deixar de construir novas minas de carvão no exterior. Mas os projetos que já haviam sido aprovados seguem em andamento.
4- Benefícios econômicos
Pequim assegura que seu projeto traz “um desenvolvimento de alta qualidade” aos países participantes, com infraestruturas duradouras.
O relatório da Universidade de Boston reconheceu que a iniciativa permitiu fornecer “mais recursos aos países do Sul” e contribuiu para “um crescimento econômico significativo”.
O Banco Mundial também destacou que os projetos chineses “melhoram substancialmente o comércio, o investimento estrangeiro e as condições de vida dos habitantes dos países” beneficiados.
No âmbito do transporte, os projetos das Novas Rotas da Seda, quando concluídos, levarão a um aumento do crescimento mundial entre 0,7% e 2,9%, segundo o Banco Mundial.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!