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O caminho para pegar os militares no relatório final da CPMI

Cercados por uma indecorosa rede de proteção composta por parlamentares que vão desde aqueles mais acovardados até os que não possuem qualquer apreço pela democracia, parece que os militares finalmente terão alguma responsabilização pelos problemas que periodicamente causam o país. Longe do ideal, mas bem próximo do possível, o capítulo destinado aos militares no relatório […]

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Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Cercados por uma indecorosa rede de proteção composta por parlamentares que vão desde aqueles mais acovardados até os que não possuem qualquer apreço pela democracia, parece que os militares finalmente terão alguma responsabilização pelos problemas que periodicamente causam o país.

Longe do ideal, mas bem próximo do possível, o capítulo destinado aos militares no relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro, terá um foco bem grande nas forças especiais do exército brasileiro, os kids pretos.

Uma fonte envolvida na elaboração do relatório final afirmou que “foi uma forma que a gente encontrou de direcionar os indiciamentos e evitar que fiquem naquela área [cinzenta] e não se espalhem pro resto das Forças”. Ou seja, seria uma estratégia para evitar que qualquer indiciamento contra militares seja acusado de revanchismo e possa até mesmo ser responsável por derrubar todo o relatório sob responsabilidade da senadora Eliziane Gama (PSD).

A fonte revelou que “ainda conseguimos indiciar uma porrada deles, mas sem desgastar mais”. Ou seja, há todo um cuidado para que de fato o relatório seja sim aprovado sem essa rede de proteção que tentou blindar os militares do inicio ao fim da CPMI e que terminou por mais uma vez impedir que o general Braga Netto prestasse contas à sociedade civil.

De qualquer maneira, é de se esperar que muita coisa ainda fique de fora, desde o envolvimento do alto comando das forças armadas em conspirações golpistas até o estranho episódio onde a deputada Duda Salabert (PDT) retirou um requerimento de convocação de pauta após receber a visita do tenente-brigadeiro e presidente do Superior Tribunal Militar, Joseli Parente. Episódio que até hoje segue sem explicação, nem mesmo por parte da deputada.

Restará à democracia brasileira resignar-se a viver sob a constante ameaça verde-oliva, o exército que mais matou brasileiros do que qualquer outra força estrangeira no mundo. Isso é claro com o beneplácito do presidente Lula que parece empenhado em garantir que uma nova anistia seja consumada.

O relatório final deve ser apresentado no próximo dia 17 e votado no dia 18, tudo para que no dia 19 acordemos um país um pouco pior do que aquele em 1979 que promulgou a anistia geral. Afinal de contas, aquela ainda tinha a decência de reconhecer os crimes dos militares, já que se reconhecia a necessidade de anistiá-los e agora nem isso.

A delinquência perpetrada pelas forças armadas na última década sequer será uma nota de rodapé nos livros de história se depender dos desejos do Palácio do Planalto.

Retomo o texto que escrevi meses atrás intitulado “59 anos de anistia”:

“A verdade é que nossa República ainda é muito indefesa contra os poderosos lobbies institucionais deste país. Policiais, magistrados, membros do MP, militares e até mesmo a imprensa.

As torturas ainda ocorrem, as perseguições também, só mudaram a embalagem mas o Estado segue dando amparo.

O governo atual certamente não irá bater com nenhum destes problemas, seja por incapacidade ou covardia. Poderia enfrentar os militares? Não há momento melhor mas também não há Ministro da Defesa pior para estar lá.

Até quando vamos repetir ciclos? Até quando a responsabilização de crimes cometidos pelo Estado serão tabu? Até hoje não tive uma resposta.

Lembro da cineasta Petra Costa que temia que nossa democracia teria sido apenas um sonho efêmero. Eu vou além, nossa democracia sempre foi um delírio de alguns poucos. Anistiamos os criminosos de 1964 e agora iremos anistiar os criminosos do 8 de janeiro”.

E para finalizar, trago outro texto que já indicava os rumos desse país:

“Faz de conta que Bolsonaro não é produto da cúpula das forças armadas, que os culpados e patrocinadores do 8 de janeiro não usavam farda, que um general da ativa não foi responsável direto pela morte de mais de 400 mil brasileiros, o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mal houvessem feito“.

“São tantas e tão deslavadas as mentiras que já não se pode cogitar somente de uma crise de valores, senão de um fosso moral e ético que parece dividir o país em dois segmentos estanques: a cúpula das forças armadas e o da grande sociedade civil que, apesar do mau exemplo e das seguidas ameaças fardadas, esforça-se para sobreviver e progredir”.

Hoje somos um país um pouco pior do que aquele que morreu nos porões 64. No fundo, acho que somos todos idealistas.

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Cleber Lourenço

Defensor intransigente da política, do Estado Democrático de Direito e Constituição. | Colunista n'O Cafézinho com passagens pelo Congresso em Foco, Brasil de Fato e Revista Fórum | Nas redes: @ocolunista_

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