Populista pró-Rússia vence legislativas na Eslováquia

TOMAS BENEDIKOVIC/AFP/ Getty Images

Caso forme uma coalizão governamental, Robert Fico assumiria pela 3ª vez o governo do país, membro da Otan e da UE. Em campanha eleitoral, prometeu corte de ajuda à Ucrânia e proteção a Putin contra mandado do TPI.

Publicado em 1/outubro/2023

DW — O partido populista Direção-Social Democracia (Smer-SSD), do ex-primeiro-ministro Robert Fico, venceu as eleições legislativas antecipadas da Eslováquia. Pró-russo declarado, ele se opõe à ajuda à Ucrânia na guerra.

De acordo com resultados definitivos divulgados neste domingo (01/10) pelo Gabinete de Estatísticas eslovaco, o Smer-SSD obteve 23,3%, à frente do liberal Eslováquia Progressista (17,1%), do vice-presidente do Parlamento Europeu, Michal Simecka.

Uma vez que nenhuma legenda obteve maioria absoluta no parlamento nacional, o futuro do país pode depender do Voz-Social Democracia (Hlas-SD), que ficou em terceiro lugar, com 14,9% dos votos.

Seu líder é o também ex-primeiro-ministro Peter Pellegrini, dissidente do Smer-SSD mas que partilha a posição pró–Ucrânia de Simecka. Um outro potencial parceiro de uma aliança governamental com Fico é o ultranacionalista Partido Nacional Eslovaco (SNS), que obteve 5,7% dos votos.

Pró-Putin ferrenho, anti-Ucrânia

Robert Fico já foi primeiro-ministro de 2006 a 2010 e de 2012 a 2018. Caso consiga formar uma coligação e regressar ao poder após cinco anos de interregno, ele se comprometeu a “suspender imediatamente qualquer entrega de ajuda militar à Ucrânia”.

Tal atitude implicaria uma guinada da política externa da Eslováquia, membro da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que forneceu uma ajuda substancial a Kiev desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

“A guerra na Ucrânia começou em 2014 quando os fascistas ucranianos mataram vítimas civis de nacionalidade russa”, declarou Fico num vídeo recente, numa provável referência aos eventos de 2 de maio daquele ano, no contexto dos protestos da Maidan, a Praça da Independência.

O populista afirmou, ainda, que não autorizaria a detenção do presidente russo, Vladimir Putin, em obediência a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), se ele alguma vez viesse à Eslováquia.

As mensagens encontraram eco num país onde, segundo uma sondagem do instituto Globsec, apenas 40% dos 5,4 milhões de habitantes considera a Rússia responsável pela guerra.

“Fico está sempre seguindo as pesquisas de opinião, ele entende o que está acontecendo”, afirma o sociólogo Michal Vasecka, do Instituto de Políticas de Bratislava. Ele define o jurista formado, de 59 anos, como “um técnico do poder, de longe o melhor da Eslováquia, não tem uma contraparte no momento”.

Durante a campanha eleitoral, o país da Europa Central foi alvo de intensas campanhas de desinformação, com estudos de opinião mostrando que metade da população está disposta a acreditar em notícias falsas.

Depois do colapso, num voto de desconfiança em dezembro, da frágil coalizão anticorrupção que estava no poder desde 2020, a Eslováquia é atualmente governada por um Executivo de tecnocratas, encabeçado pelo banqueiro Ludovit Odor, ostentando atualmente a maior taxa de inflação da EU, 10%.

Cláudia Beatriz:
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