Tony Garcia expõe acordo de colaboração que levanta sérias questões éticas; Moro nega todas as acusações
Documentos recentemente desclassificados da 13ª vara de Curitiba mostram que o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro aprovou um acordo de colaboração premiada com Tony Garcia, ex-deputado estadual e empresário. O acordo, datado de dezembro de 2004, tinha como objetivo investigar magistrados e políticos com foro privilegiado, algo que estaria fora da jurisdição de Moro.
Moro nega as acusações e afirma que não há gravações envolvendo pessoas com foro privilegiado no caso. O acordo foi meticulosamente supervisionado por Moro ao longo dos anos e incluía o uso de escutas ambientais para coletar informações sobre desembargadores e ministros.
Tony Garcia só teve acesso aos termos do acordo recentemente, quando o juiz Eduardo Appio assumiu a 13ª vara e levantou o sigilo que durava quase duas décadas. O processo agora foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de anular todas as ações de Moro contra Tony.
O acordo listava 30 tarefas para Tony, incluindo a obtenção de gravações e documentos. Moro, por sua vez, fez várias cobranças ao delator ao longo dos anos por não cumprir todas as tarefas estipuladas.
Um detalhe notável está na penúltima “missão” atribuída a Tony. A tarefa número 29 envolvia a interceptação telefônica de Sérgio Moro. Segundo Antônio Celso Garcia, o advogado Bertoldo teria mandado grampear a linha telefônica de Moro. O grampo teria ocorrido na PIC do MPE, onde Bertoldo tem influência. O caso revela uma conversa sobre um possível mandado de prisão contra Tony Garcia, e Bertoldo teria avisado Tony para fugir, alegando ter grampeado o telefone de Moro.
Tony foi condenado a seis anos de prisão, mas sua pena foi convertida em serviços comunitários devido à sua colaboração, um benefício concedido por Moro. Agora, ele busca no STF anular os efeitos do acordo e condenar Moro por atuação parcial.
O caso está sob a responsabilidade do ministro Dias Toffoli e pode ter implicações significativas, já que Tony se apresenta como um “projeto piloto” do que viria a ser a Operação Lava Jato.
Em sua defesa, Moro afirma que Tony Garcia é um criminoso condenado e que todas as ações foram documentadas e não envolvem autoridades com foro privilegiado. Ele também nega qualquer relação com as investigações do Mensalão ou Petrolão.