Delação de Cid: isolado no Planalto após derrota, Bolsonaro estava obcecado por “fraude”

Antônio Cruz / Agência Brasil / Divulgação

Ex-presidente insiste que foi “roubado” nas eleições de 2022 e busca maneiras de contestar o resultado

O tenente-coronel Mauro Cid foi um dos poucos indivíduos que acompanharam o ex-presidente Jair Bolsonaro após o término do segundo turno das eleições de 2022. Durante esse tempo, Bolsonaro se isolou no Palácio da Alvorada, recebendo apenas um seleto grupo de aliados e se recusando a admitir publicamente a vitória de Lula.

Segundo Cid, Bolsonaro estava convencido de que venceria a eleição e ficou tão abalado com a derrota que desenvolveu uma infecção na perna, conhecida como erisipela, devido à baixa imunidade. O ex-presidente frequentemente questionava o que faria com “o povo que está na rua”, referindo-se aos seus apoiadores que contestavam o resultado, e reiterava suas críticas ao resultado. “Fui roubado, fui roubado. O PT vai destruir o Brasil”, dizia Bolsonaro.

Em sua busca para encontrar uma suposta fraude eleitoral, Bolsonaro, de acordo com Cid, estava focado em encontrar evidências que pudessem servir de base para algum tipo de contestação ao resultado das eleições.

Conforme relatado por veículos de comunicação como O Globo e UOL, Cid informou à Polícia Federal que Bolsonaro chegou a se encontrar com os comandantes das três Forças Armadas para discutir a possibilidade de reverter o resultado eleitoral. Segundo essas fontes, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, estava disposto a participar de um plano golpista, mas o chefe do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, rejeitou qualquer tentativa nesse sentido.

Em diálogos com aliados, Cid evita usar a palavra “golpe”. Ele acredita que a situação dentro da Presidência e do Exército reflete um momento e uma sociedade divididos. Por isso, havia uma espécie de impasse: muitos defendiam que algo deveria ser feito, mas poucos estavam dispostos a liderar qualquer tipo de ação.

“Mas para isso se tornar um golpe… Os generais conversaram com Bolsonaro e disseram que não havia nada a ser feito. Qualquer intervenção militar levaria a décadas de regime autoritário. Ninguém quer mais isso, não é mais viável”, declarou o tenente-coronel a um confidente.

Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal em 9 de setembro. Em seus depoimentos, ele confessou ter manipulado o sistema do Ministério da Saúde para emitir um falso certificado de vacinação contra a Covid-19 e admitiu ter vendido dois relógios recebidos pelo governo brasileiro, repassando o dinheiro ao ex-presidente.

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