Cid obtém análise sobre o “papel moderador” dos militares após encontro secreto de Bolsonaro
Documento descoberto pela Polícia Federal no dispositivo móvel do tenente-coronel
Um e-mail da equipe de ajudantes de ordens da Presidência revela uma reunião secreta entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e líderes militares em 14 de novembro de 2022, quinze dias após o segundo turno das eleições. O encontro, que não foi divulgado publicamente, ocorreu no Palácio da Alvorada. Dois dias após essa reunião, Mauro Cid, ex-assistente de Bolsonaro, recebeu um estudo sobre o “papel moderador” dos militares, uma teoria frequentemente usada por apoiadores de Bolsonaro para justificar uma possível intervenção militar.
De acordo com informações fornecidas por Cid, Bolsonaro discutiu um esboço de plano golpista com líderes militares e membros do governo após as eleições. No entanto, não se pode confirmar se o documento discutido está relacionado ao encontrado no telefone de Cid ou se seu testemunho se refere a essa reunião específica.
Na mesma época, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria informado a Bolsonaro que suas forças estavam prontas para responder a um chamado do ex-presidente. E-mails sobre a agenda do dia não mencionam especificamente os comandantes, mas naquele momento, as três Forças Armadas eram lideradas por Garnier (Marinha), general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e tenente-brigadeiro do ar Baptista Junior (Aeronáutica).
Outras reuniões não registradas oficialmente também ocorreram, incluindo uma em 18 de dezembro de 2022, que está sob análise da CPMI do 8 de janeiro. Em seu depoimento, Cid afirmou que um rascunho de decreto para novas eleições e prisões de opositores foi entregue a Bolsonaro, mas o ex-presidente não expressou sua opinião sobre o plano.
O estudo recebido por Cid em 16 de novembro também incluía outros documentos sobre o papel das Forças Armadas na “garantia dos poderes constitucionais” e a possibilidade de “declaração de estado de defesa ou sítio”. Este material foi originado de um artigo científico de 2017 e enviado a Cid pelo tenente-coronel Marcelino Haddad, que nega que o texto seja um plano para um golpe de Estado.
A delação de Cid é considerada uma das principais novidades na investigação, que também examina outras irregularidades envolvendo Bolsonaro e seus aliados. A defesa de Cid não confirmou o conteúdo dos depoimentos, que são confidenciais.