A crise da Record, comandada pelo “bispo” Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), parece não ter fim. Na semana passada, a emissora deflagrou uma nova onda de demissões, desta vez na redação do Rio de Janeiro. O site de entretenimento F5, da Folha, “apurou que já são 22 funcionários demitidos desde a última quarta-feira (6)”. Jornalistas e profissionais de outros departamentos foram cortados sem dó nem piedade.
Dois meses antes, a empresa já havia promovido cortes profundos. O motivo apresentado é o de que a Record passa por “um período de reformulação de seus investimentos”. Novos desligamentos são aguardados para os próximos dias. “As recentes demissões foram dos profissionais com mais de oito anos de casa, entre os quais vários chefes de setor, como Patrícia Macedo e Vicente Freitas, o locutor Carlos Xavier, a coordenadora de pauta Lívia Bonard, as editorias de texto Ilza Maria e Ana Xavier, entre outros”, descreve a matéria.
“Ser humano acima de tudo”
Nas demissões de julho, a emissora jurou que os desligamentos “foram necessários, mas com respeito ao ser humano acima de tudo”. Já em agosto, ela dispensou o jornalista Herbert Moraes, “que estava na TV de Edir Macedo desde 2004. Também chutou o repórter especial Mauro Júnior e o narrador Lucas Pereira”. Segundo o site NaTelinha, “o clima na emissora é de insegurança e desânimo… A Record vem justificando que a decisão é um corte de custo para enfrentar a retração publicitária no mercado carioca e reverter prejuízos na operação”.
O mesmo site de entretenimento já havia antecipado em maio passado que a empresa da Iurd fechara o ano de 2022 com um prejuízo de mais de meio bilhão de reais. “De acordo com balanço publicado, a Rádio e TV Record S/A apresentou um resultado líquido negativo de R$ 547,9 milhões. Foi a primeira vez que a operação da emissora atingiu prejuízo nos últimos três anos. Em 2021, teve lucro de R$ 130,503 milhões; em 2020 foi de R$ 143,678 milhões; e R$ 50,4 milhões no ano de 2019”.
Negócios sinistros do “bispo” Edir Macedo
Já o jornalista Daniel Castro, em matéria postada no site Notícias da TV no início de julho, garantiu que a crise da emissora teria relação também com alguns rolos do “bispo”. “A maior parte do prejuízo da Record em 2022 não foi causado por ela, mas pelo banco Digimais (ex-Renner), que passou a ser controlado por Edir Macedo, dono da Record, em 2020. No ano passado, o Digimais teve um prejuízo de R$ 323 milhões. Como a Record é controladora do banco, absorve esse resultado em seu balanço. Sem o desempenho negativo do Digimais e de outras empresas controladas pela Record, o prejuízo da emissora seria de ‘apenas’ R$ 188 milhões”.
O especialista em mídia ainda acrescenta que “o balanço da Record mostra que a emissora aumentou suas receitas com publicidade em apenas R$ 6 milhões em 2022 (de R$ 2,008 bilhões para R$ 2,014 bilhões). Mas os custos com operações, produções, vendas e administração, mais a equivalência financeira (ou seja, os prejuízos do Digimais e outras empresas controladas), subiram 39%, de R$ 1,842 bilhão para R$ 2,568 bilhões”.
Diante dessa nova onda de demissões, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro divulgou nota de repúdio. “A empresa é reincidente. Em julho demitiu vários jornalistas, mesmo sendo a 2ª maior rede de televisão do Brasil e tendo terminado o ano de 2022 com o maior faturamento de sua história. Repudiamos as demissões dos jornalistas, mesmo método adotado por suas concorrentes. Demitem profissionais qualificados e muito experientes e contratam estudantes de jornalismo, ou de área correlata para os telejornais, reduzindo custos via achatamento de salários”.