O governo Lula inaugurou uma nova maneira de proteger o meio ambiente através de financiamento. Nesta segunda-feira (18), foi lançado o programa de títulos verdes durante um evento na Bolsa de Valores de Nova York.
De forma inédita, o mercado financeiro internacional poderá adquirir títulos da dívida externa com critérios sustentáveis.
O evento contou com a presença dos ministros Fernando Haddad e Marina Silva e dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco.
Antes do lançamento do programa, Haddad se reuniu com inúmeros investidores financeiros para conquistar a confiança do mercado internacional, tratando temas como a aplicação de recursos envolvendo a sustentabilidade. Segundo o ministro, “a sinalização [dos investidores] foi muito positiva”. Para ele, o país seria um grande atrativo para investimentos de fora, caso investissem na segurança jurídica do Brasil.
“A principal questão que eles falam é a reforma tributária, maior insegurança jurídica que o Brasil oferece hoje é o caos tributário, que ninguém sabe quanto deve, quanto tem a receber. Isso é um horror”, declarou o ministro.
As expectativas das vendas dos papéis são altas. De acordo com a previsão, apenas com os Estados Unidos é possível captar até US$ 2 bilhões, o equivalente a R$ 10 bilhões. O compromisso do Brasil é usar esse valor exclusivamente para financiar ações sustentáveis, como adaptar as indústrias à realidade de combate às mudanças climáticas e preservação ambiental.
“Isso é o começo de um processo. Estamos em um período de silêncio agora, portanto o Tesouro é que vai julgar a conveniência do quanto e quando colocar esse títulos no mercado”, continuou Haddad.
A partir da venda dos títulos verdes, estarão disponíveis até outubro, o governo irá divulgar dois relatórios anuais com o destino do dinheiro recebido.
Durante o encontro em Nova York, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o governo apresentou oportunidades de negócios e investimentos no país em transição ecológica, energética, de descarbonização e infraestrutura.
Para a ministra do Meio-Ambiente, a imagem brasileira no exterior melhorou muito nos últimos meses.
“Com certeza já há uma grande expectativa por esses títulos. E a imagem muda quando mudam as atitudes. As atitudes mudaram. Obviamente que a imagem muda. Nós, nesses 8 primeiros meses, reduzimos o desmatamento em 48%, e evitamos lançar na atmosfera cerca de 200 milhões de toneladas de CO². Já estamos recuperando as políticas públicas da área socioambiental”, disse Marina Silva.
Além do evento na Bolsa de NY, Haddad teve, também, uma reunião privada com o representante especial dos Estados Unidos para questões climáticas, John Kerry. Ambos participaram de um evento que discutiu o desenvolvimento sustentável do Brasil, com ênfase na preservação da Amazônia.
Ao fim do evento, Kerry destacou que as pessoas estão começando a perceber que existem maneiras inteligentes de lucrar por meio de investimentos que também contribuem para a proteção das comunidades e das florestas.
“O que eu conversei com John Kerry, inclusive antes de vir para cá, foi que nós tínhamos que abrir espaço para que as nossas empresas pudessem fazer mais parcerias, porque nem tudo interessa produzir nos Estados Unidos. Teme uma parte da produção manufatureira americana – que tem como destino o mercado de consumo dos Estados Unidos – que é produzida no México. Há coisas que podem ser produzidas no Brasil, até porque o México não tem uma matriz verde, uma matriz energética verde como nós. Então, o aspecto crucial é que nós possamos explorar mais possibilidades sem as amarras típicas dos acordos bilaterais e multilaterais”, afirmou Haddad.