Uma sindicância do Exército para apurar as ações de militares durante as invasões do 8 de janeiro, a qual O Cafezinho teve acesso, revela que segundo um tenente de um dos pelotões presentes para defender o Palácio do Planalto da turba golpista durante o 8 de janeiro, seus superiores enviaram menos homens que o necessário diante do tamanho das manifestações e que a quantidade de pelotões no local tornava a defesa do local impossível.
A defesa do tenente Gustavo Morong Rosty que comandava o 3° Pelotão da 5ª Companhia de Guarda do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) durante o 8 de janeiro é enfática em afirmar que “a avaliação equivocada, realizada anteriormente pelos escalões mais altos, considerando que uma tropa de valor de pelotão seria suficiente para atuar nas manifestações de 8 de janeiro, deixou todos os militares que estavam no Palácio do Planalto (integrantes do GSI, BGP e 1º RGC) totalmente à mercê da própria sorte. Tornando verdadeiro um ditado muito utilizado nos Estudos de Estratégia: “Não existe acerto tático que compense um erro estratégico”.
A sua defesa também revela que diante de tamanha dificuldade, restou ao tenente apenas “evitar a todo custo, que o meu pelotão ou um de seus integrantes fosse subjugado pelos invasores”.
A sindicância também revela que seria necessário averiguar quais os motivos fizeram a Coordenadoria de Segurança de Instalações (SCI) da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial (SSCP) do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), está última, sob comando de um militar nomeado por Jair Bolsonaro, a solicitar apenas um pelotão da tropa de choque que estava presente no Subsolo do Planalto e que mais “tarde mostrou-se totalmente insuficiente para fazer frente ao número de manifestantes (..) com elevado grau de agressividade”.
Esse pelotão teria sido acionado somente às 14:48 após os golpistas terem invadido e destruído o Congresso Nacional.
Ainda segundo a sindicância, o tenente Rosty, “ao verificar a quantidade e o grau de agressividade dos manifestantes, e sabedor de que um pelotão seria insuficiente para barrar o acesso dos manifestantes, o comandante do 3º Pelotão, de imediato, enviou mensagem direta para seu comandante de subunidade, informando da gravidade da situação”.
Transcrição de áudio no WhatsApp enviado às 14h53: “Irmão, tá tendo confronto, tamo vendo confronto aqui, subiram em cima do Congresso, se vier pra cá tamo fudido, hein, velho!”
Poucos minutos após esse áudio, o Palácio do Planalto foi invadido.
Os relatos da defesa do tenente também revelam que a quantidade de munições também era insuficiente, fazendo com que eles pegassem emprestado munições da tropa de choque da Policia Militar do Distrito Federal que também estava no local.
Ainda segundo o documento, o comandante do 3º Pelotão enviou uma nova mensagem direta para seu comandante de companhia, informando da urgência para a chegada de reforços, bem como pela necessidade de mais munição, uma vez que a dotação do pelotão já havia sido esgotada e que a tropa estava pegando munição “emprestada” junto à fração da PMDF.
Transcrição de áudio no WhatsApp enviado às 15h16: “Irmão, se puder vir com a companhia, vem, filho. Gastamos tudo!”.
O restante da 5ª companhia só chegaria depois das 15h30, mesmo com o aviso feito há quase uma hora antes de que seria necessário reforços.