Segundo documentos recebidos com exclusividade pelo Cafézinho, militares teriam recebido ordens de um major para que cantassem o hino nacional junto com golpistas durante as invasões do 8 de janeiro.
Segundo um Inquérito Policial Militar (IPM), testemunhas afirmaram que presenciaram o Major Saulo Paim Onoda emitindo a ordem e incentivando a tropa a entoar junto aos golpistas no Palácio do Planalto o canto do Hino Nacional, como também emitindo ordens diretas, o que, segundo o relatório, caracterizou como uma nítida quebra na cadeia de comando da tropa.
Acontece, porém, que a alegação de que o Major teria cometido uma transgressão disciplinar não corresponde a outro fato amplamente documentado naquele dia. O Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), que é subordinado ao Comando Militar do Planalto, teve seu antigo chefe, o tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, filmado entoando o hino nacional ao lado dos golpistas. O vídeo está em posse das autoridades.
Outros relatos de militares durante o IPM também revelam que outros militares receberam sim ordens para cantar o hino, mas que não teriam vindo do major ou que não têm certeza de quem partiu tal ordem.
Na hierarquia do exército, o tenente-coronel está acima do major. Logo, ou o tenente-coronel recebeu ordens de um major, o que é impensável que tenha ocorrido, ou então foi o contrário.
Outro depoimento revela que, segundo o tenente Danielo Candeo Rodrigues, embora não tenha recebido ordens de cantar o hino, a intenção do Comandante do BGP era “evitar o confronto físico e que fosse trabalhado a sensibilização junto aos manifestantes quanto à desocupação das instalações do Palácio”.
O inquérito sobre este episódio acaba não se debruçando sobre estes demais fatos e termina por concluir apenas que “há claros indícios de transgressão disciplinar na conduta atribuída ao sindicado Major Saulo Paim Onoda”, sem maiores apurações sobre a cadeia de comando.