Ciro Gomes elogia política industrial de Lula

Ciro e Mercadante. X de Ciro Gomes, setembro de 2023.


Em sua última newsletter, edição número 10, Ciro Gomes dá um cavalo de pau no tom que vinha adotando até então, sempre extremamente crítica ao novo governo, e faz rasgados elogios à política industrial do governo Lula.

Ciro conta que, ao saber que o governo Lula vinha desenvolvendo um projeto audacioso de neoindustrialização nacional, tocado sobretudo pelo ministério da Indústria e pelo BNDES, ligou para o presidente deste último, Aloysio Mercadante, e pediu uma audiência.

O ex-ministro de Lula foi recebido por Mercadante e equipe, e participou de uma longa conversa sobre a política industrial do governo federal.

Em sua newsletter, divulgada todo domingo para assinantes, Ciro Gomes admite que gostou do que ouviu.

Abaixo, trecho de sua newsletter:

“Em resumo, gostei muito do que ouvi nesta reunião e quero resumir aqui como uma potencial excelente novidade!

A estratégia, que me pareceu correta, é a identificação de cadeias produtivas complexas em setores onde o Brasil tem potencial elevado. Com isso, se pretende interromper a desindustrialização criminosa que experimentamos desde os anos 80, com especial agravamento a partir dos anos 90, sem interrupção. Mas, mais que isso, também buscar uma expansão estratégica nestes mesmos setores, além de desenvolver alguns outros onde PRECISAMOS estar e não estamos.

O método, ainda em fase inicial, como é natural para um governo que assume sem projeto, ainda que cada minuto perdido aqui seja trágico, é a constituição de grupos de trabalho envolvendo todo mundo que possa, cadeia produtiva a cadeia produtiva, cooperar na edificação do que será, dando certo o plano, uma nova política industrial para o Brasil: empresários, acadêmicos, setores governamentais. Já é um excelente avanço conceitual, pois o antigo método de “campeões nacionais” só serviu para chover no molhado, render-se a lobbies e vulnerar-se a corrupção endêmica.

Alguns setores óbvios já estão com seus grupos constituídos em trabalho: petróleo, gás, biocombustíveis, hidrogênio verde, descarbonização e reconversão energética; defesa; complexo industrial da saúde; complexo industrial do agronegócio; mas, também – importantíssimo -, complexo da economia criativa, cinema, audiovisual, games e afins, para ficar em alguns exemplos.

Estes grupos têm a tarefa de colocar em termos práticos a agenda de reversão da destruição de nosso aparato econômico moderno. Não é tarefa simples, nem fácil, além de representar, no concreto, um embate ideológico para lá de complexo para fora e para dentro do próprio governo. Pontuei isso quando me pediram para falar.

Os desafios são muito amplos e devemos conhecê-los objetivamente se quisermos ter alguma possibilidade de êxito. Financiamento, maturidade tecnológica, escala (na defesa – mercado interno –, e no ataque – comércio exterior), são as três assimetrias centrais que nos deixam em desvantagem global se quisermos retomar uma indústria brasileira relevante.

Mas não para por aí, se quisermos olhar o grande quadro em que teremos que estar na luta internacional renhida por espaços mercadológicos. É só lembrar que, na partida, enfrentaremos resistências, nem sempre barulhentas e quase nunca leais, de três grandes blocos industriais atuais: o norte-americano, o europeu e o asiático – China e Coreia do Sul à frente.

Há caminhos, claro, segui dizendo cheio de esperança (eu também preciso tê-la).
O BNDES é a ponta de lança da questão do financiamento e já pode, por si, dar um excelente pontapé numa nova política industrial”.

Redação:
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