Em sua última newsletter, edição número 10, Ciro Gomes dá um cavalo de pau no tom que vinha adotando até então, sempre extremamente crítica ao novo governo, e faz rasgados elogios à política industrial do governo Lula.
Ciro conta que, ao saber que o governo Lula vinha desenvolvendo um projeto audacioso de neoindustrialização nacional, tocado sobretudo pelo ministério da Indústria e pelo BNDES, ligou para o presidente deste último, Aloysio Mercadante, e pediu uma audiência.
O ex-ministro de Lula foi recebido por Mercadante e equipe, e participou de uma longa conversa sobre a política industrial do governo federal.
Em sua newsletter, divulgada todo domingo para assinantes, Ciro Gomes admite que gostou do que ouviu.
Abaixo, trecho de sua newsletter:
“Em resumo, gostei muito do que ouvi nesta reunião e quero resumir aqui como uma potencial excelente novidade!
A estratégia, que me pareceu correta, é a identificação de cadeias produtivas complexas em setores onde o Brasil tem potencial elevado. Com isso, se pretende interromper a desindustrialização criminosa que experimentamos desde os anos 80, com especial agravamento a partir dos anos 90, sem interrupção. Mas, mais que isso, também buscar uma expansão estratégica nestes mesmos setores, além de desenvolver alguns outros onde PRECISAMOS estar e não estamos.
O método, ainda em fase inicial, como é natural para um governo que assume sem projeto, ainda que cada minuto perdido aqui seja trágico, é a constituição de grupos de trabalho envolvendo todo mundo que possa, cadeia produtiva a cadeia produtiva, cooperar na edificação do que será, dando certo o plano, uma nova política industrial para o Brasil: empresários, acadêmicos, setores governamentais. Já é um excelente avanço conceitual, pois o antigo método de “campeões nacionais” só serviu para chover no molhado, render-se a lobbies e vulnerar-se a corrupção endêmica.
Alguns setores óbvios já estão com seus grupos constituídos em trabalho: petróleo, gás, biocombustíveis, hidrogênio verde, descarbonização e reconversão energética; defesa; complexo industrial da saúde; complexo industrial do agronegócio; mas, também – importantíssimo -, complexo da economia criativa, cinema, audiovisual, games e afins, para ficar em alguns exemplos.
Estes grupos têm a tarefa de colocar em termos práticos a agenda de reversão da destruição de nosso aparato econômico moderno. Não é tarefa simples, nem fácil, além de representar, no concreto, um embate ideológico para lá de complexo para fora e para dentro do próprio governo. Pontuei isso quando me pediram para falar.
Os desafios são muito amplos e devemos conhecê-los objetivamente se quisermos ter alguma possibilidade de êxito. Financiamento, maturidade tecnológica, escala (na defesa – mercado interno –, e no ataque – comércio exterior), são as três assimetrias centrais que nos deixam em desvantagem global se quisermos retomar uma indústria brasileira relevante.
Mas não para por aí, se quisermos olhar o grande quadro em que teremos que estar na luta internacional renhida por espaços mercadológicos. É só lembrar que, na partida, enfrentaremos resistências, nem sempre barulhentas e quase nunca leais, de três grandes blocos industriais atuais: o norte-americano, o europeu e o asiático – China e Coreia do Sul à frente.
Há caminhos, claro, segui dizendo cheio de esperança (eu também preciso tê-la).
O BNDES é a ponta de lança da questão do financiamento e já pode, por si, dar um excelente pontapé numa nova política industrial”.