Eu até que gostaria de chegar para você, caro leitor, e dizer que não sei porquê diabos um setor da grande mídia brasileira está revoltada com a política externa adotada pelo terceiro governo do presidente Lula. Sério mesmo, queria ter essa ingenuidade.
Porém, minha função aqui vai além de informar, mas também clarear a realidade para quem depositou confiança, credibilidade e o valioso tempo.
Ora, a fúria da grande mídia é pelo fato do Itamaraty, sob o governo Lula, ter adotado uma postura de independência, deixando o Brasil bem longe da política de subserviência aos interesses dos Estados Unidos. Em suma, temos uma mídia que detona um governo por adotar um mínimo de soberania nas relações externas.
Desta vez o jornalista e âncora da CNN William Waack, que assina um artigo no Estadão, simplesmente detonou a forma como o presidente Lula têm conduzido a diplomacia com países naturalmente estratégicos para o Brasil como é o caso da Rússia e da própria China. No seu texto, Waack chega a comparar o Brasil a um “bagrinho” que deseja se misturar com “tubarões”.
“Lula divide o mundo entre países tubarões e bagrinhos. Os tubarões estão sentados no Conselho de Segurança da ONU e atacam conforme julgam necessário. Os bagrinhos obedecem a leis e aderem a entidades como o Tribunal Penal Internacional”, escreve o jornalista.
“Na visão do presidente brasileiro, o Brasil é um bagrinho com pretensões a tubarão, com boas chances de serem realizadas. Sua assessoria internacional lhe garante que o próprio eixo da Terra está mudando depois da recente expansão do Brics, comandada pela China, um dos tubarões pelos quais Lula tem grande admiração (o outro é a Rússia)”, prossegue.
Para quem tem o mínimo de honestidade intelectual, sabe que em nenhum momento a política externa do governo Lula se comprometeu a rebaixar o Brasil a um “bagrinho”. Pelo contrário, as negociações com outros países, incluindo a União Europeia, são pautadas pela priorização dos interesses nacionais.
Além disso, soma-se o fato de que o presidente Lula é altamente exigente nas negociações. Tanto é que recentemente o chefe de estado brasileiro, que assumiu as tratativas envolvendo o Mercosul, deu o últimato para que a União Europeia responda a proposta de acordo comercial com o bloco.
Mas antes disso, Lula deixou claro que não aceita as exigências impostas pelos países europeus para selar o acordo. Na última segunda, 11, durante entrevista coletiva em Nova Delhi, na Índia, Lula deu o seguinte recado: “Temos que fazer uma reunião em que os presidentes estejam presentes para dizerem: quer ou não o acordo”.
A afirmação foi dada horas após uma reunião com o presidente da França, Emannuel Macron. O líder brasileiro também ponderou que um acordo precisa ter “igualdade de condições”. “Acordo comercial é uma via de duas mãos: eu compro e eu vendo, nós temos que chegar num ponto de equilíbrio”.
Diante dos fatos, fica praticamente irracional os ataques virulentos da grande mídia com a atual política externa brasileira. A única razão que sobra para essa agressividade sem limites é o velho complexo de vira lata, que ainda castiga corações e mentes dos porta-vozes da imprensa tradicional.