2 mil dias do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Neste sábado (2), a Anistia Internacional promoveu um ato no centro do Rio de Janeiro para simbolizar a marca de 2 mil dias sem solução ou justiça do ataque, que ocorreu na mesma região, em 14 de março de 2018.
A manifestação reuniu coletivos de mães e familiares vítimas da violência do Estado, bem como ativistas defensores dos direitos humanos. O objetivo da mobilização, realizada na Praça Mauá, em frente à Superintendência da Polícia Federal, foi pedir justiça pela vida de Marielle, Anderson, e tantas outras pessoas que morreram em condições parecidas.
O principal intuito do ato foi reivindicar agilidade nas investigações, que perduram por mais de cinco anos, e garantir a imparcialidade, transparência e esclarecimento das motivações do crime o mais rápido possível, além de questionar quem foram os mandantes dos assassinatos. A Anistia cobra, ainda, que o governo federal implemente um mecanismo independente para apurar e elucidar o crime, junto a um time de cooperação técnica internacional.
“É inadmissível que depois de tanto tempo e recursos investidos nesse processo, não tenham chegado a uma conclusão. Desde o dia do crime, a Anistia Internacional Brasil segue mobilizada para que se faça justiça por Marielle e Anderson. E assim seguiremos, em luta e com coragem”, disse a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck.
Ela relembra todo o caminho da investigação do crime até os dias atuais, mas, apesar de todos os recursos já buscados e autoridades envolvidas, ainda não há soluções.
“Nos últimos cinco anos, tivemos seis delegados de polícia à frente do caso, quatro chefes de Polícia Civil, um interventor, 11 promotores de Justiça, dois procuradores gerais de Justiça, dois procuradores-gerais de Justiça, três governadores, dois presidentes da República, um superintendente da Polícia Federal e continuamos sem resposta”, diz Werneck.
A mobilização contou com vários símbolos para relembrar os temas da luta: luzes de led traziam a mensagem “2 mil dias sem Justiça” enquanto os participantes caminhavam com girassóis, que representam as sementes de Marielle e Anderson, e velas, que são o símbolo da organização.
Há 2 mil dias atrás, a então vereadora do PSOL e seu motorista foram mortos na Zona Norte do Rio de Janeiro. Eles voltavam de um evento da Lapa, junto com a assessora de Marielle, Fernanda Chaves, quando foram surpreendidos por tiros disparados de dentro de um carro. A parlamentar tinha 38 anos e morreu com quatro tiros na cabeça, enquanto Anderson tinha 39 anos e foi baleado três vezes nas costas.
Desde o início das investigações do caso, os mandantes do crime ainda não foram identificados, mas outras quatro pessoas foram presas acusadas de envolvimento. O ex-bombeiro Maxwell Simões foi detido por atrapalhar as investigações; o PM reformado Ronnie Lessa, que teria efetuado os disparos; e o ex-PM Élcio de Queiroz, que confessou ter dirigido o carro no momento do crime.
A última prisão referente ao caso ocorreu no início de agosto, quando a Polícia Federal deflagrou uma operação contra um esquema de Maxwell Simões. À época, sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos e Wellington de Oliveira Rodrigues, o Manguaça, foi preso.
Uma matéria do o Globo revelou que, desde o assassinato, ao menos outras cinco pessoas suspeitas de envolvimento com o crime também morreram – consideradas queima de arquivo. Entre elas estão Macalé, sargento reformado que vigiava os passos de Marielle desde o final de 2017; Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope, e seu braço-direito, Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha; Hélio de Paulo Ferreira, o Senhor das Armas; Lucas do Prado Nascimento, o Todynho.
No início do governo Lula, a investigação do caso teve continuações mais assíduas. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, mobilizou a Polícia Federal para atuar diretamente no caso em conjunto com o Ministério Público do Rio (MPRJ). Neste ano, ainda, Élcio Queiroz confirmou o nome de alguns envolvidos – que foram presos – e de outras pessoas que também tiveram participação no crime, mas que seguem em segredo de Justiça.
Dino acredita que a colaboração premiada de Queiroz encerrou uma fase da investigação, tendo em vista que foram sanadas algumas dúvidas sobre a execução do crime. Assim, abriu-se a oportunidade da polícia chegar aos mandantes do duplo assassinato – como reivindica a Anistia Internacional.
“Há um avanço, uma espécie de mudança de patamar da investigação. A investigação agora se conclui em relação ao patamar da execução e há elementos para novo patamar: o da identificação dos mandantes do crime”, declarou o ministro.