Grupo cancelou resultado das eleições de sábado que se traduziram na reeleição de Ali Bongo Ondimba e que foram contestadas pela oposição. Paradeiro do chefe de Estado não é conhecido.
Lusa e PÚBLICO
30 de Agosto de 2023, 7:37 actualizada às 8:52
Um grupo de militares do Gabão anunciou esta quarta-feira na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram, no sábado, Ali Bongo Ondimba e a dissolução de todas as instituições democráticas.
O anúncio foi feito num comunicado de imprensa lido no Gabon 24, um canal de televisão detido pela Presidência do país, por cerca de uma dúzia de soldados gaboneses. Os militares anunciaram igualmente o encerramento de todas as fronteiras do país.
Depois de constatar “uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor”, declarou um dos soldados.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um “Comité de Transição e Restauração Institucional”, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam “encerradas até nova ordem”.
De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville. Não se sabe qual é o paradeiro de Bongo, que foi visto em público pela última vez no sábado, durante as eleições, segundo a Reuters.
Horas antes, a meio da noite, às 3h30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral disse que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, que obteve 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.
O Governo invocou o risco de violência, na sequência das declarações de Ondo Ossa, que exigia ser declarado vencedor. Esta quarta-feira, segundo a AFP, a Internet já tinha sido restaurada no país.
O exército e a polícia tinham montado bloqueios de estradas em toda a capital, durante a madrugada, para impor o recolher obrigatório pela terceira noite consecutiva.
Logo no dia da votação, duas horas antes do fecho das assembleias de voto, os principais partidos da oposição gabonesa tinham denunciado uma fraude eleitoral e exigido que fosse reconhecida a vitória de Ondo Ossa.
Na segunda-feira, numa conferência de imprensa em Libreville, Mike Jocktane, director de campanha de Ondo Ossa, disse que Bongo tinha de aceitar, “sem derramamento de sangue, a transferência de poder”.
Em 2019, um grupo de militares anunciou o afastamento de Bongo, que tinha sofrido alguns meses antes um ataque cardíaco, chegando a ocupar uma estação de rádio. No entanto, ao fim de algumas horas, dois dos militares rebeldes foram abatidos e os restantes detidos, pondo fim à tentativa de golpe.
Nas eleições de sábado, Ali Bongo pretendia prolongar a dinastia a que pertence e que controla o Gabão há mais meio século. Ali Bongo chegou à presidência em 2009, sucedendo ao pai, Omar Bongo, que tinha morrido após 42 anos no poder.
Nas duas eleições vencidas por Ali Bongo, houve inúmeras queixas de fraude eleitoral por parte dos seus opositores, mas, com a generalidade das instituições públicas sob controlo de fiéis ao regime, nunca houve qualquer apuramento independente destas acusações.
Nas eleições de sábado, a campanha de Ondo Ossa fez várias denúncias de irregularidades durante a votação, incluindo a abertura tardia de locais de voto ou a ausência de boletins com o nome do líder oposicionista. Não foi autorizada a participação de qualquer missão internacional de observadores eleitorais.
Caso o golpe no Gabão se confirme, este será o oitavo na região da África Central e Ocidental nos últimos três anos, depois do derrube dos líderes do Mali, Guiné-Conacri, Burkina Faso, Chade e Níger.
A notícia do possível golpe no Gabão foi recebida com apreensão pela União Europeia. “Se for confirmado, este é um novo golpe militar que vai aumentar a instabilidade em toda a região”, afirmou o Alto Comissário da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, à entrada para a reunião de ministros da Defesa europeus em Toledo, em Espanha. “Esta é uma questão importante para a Europa”, acrescentou.
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