A recente ampliação dos BRICS para incluir seis novos membros – Arábia Saudita, Irã, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia – tem gerado ondas de impacto na ordem internacional e despertado reflexões sobre seu papel na geopolítica mundial. O professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luís Fiori, compartilhou suas perspectivas em uma entrevista exclusiva ao Tutaméia, oferecendo análises profundas sobre os desdobramentos dessa expansão.
O professor Fiori, autor de “A Síndrome de Babel e a Disputa do Poder Global”, afirmou que a inclusão desses novos membros representa uma “explosão sistêmica” na ordem internacional que foi predominantemente moldada pelos europeus e seus descendentes nos últimos séculos. Ele apontou que essa expansão do BRICS não terá efeitos imediatos, mas sua influência se manifestará em ondas sucessivas e cada vez mais fortes.
Uma das questões centrais abordadas foi a possível substituição do dólar nas transações energéticas entre os países membros do BRICS e suas respectivas “zonas de influência”. Essa mudança discreta, observada na reunião de Joanesburgo, é vista pelo professor Fiori como um dos maiores golpes à hegemonia do dólar desde os Acordos de Bretton Woods em 1944. Isso impacta diretamente a dominação econômica dos Estados Unidos e coloca em xeque sua posição de liderança global.
A ampliação dos BRICS traz à tona também o papel desses países como importantes atores na disputa global pela energia e pelas commodities alimentícias. Com grandes produtores de petróleo e alimentos, bem como populações consideráveis, esses países têm potencial para influenciar mercados e moldar a geopolítica desses setores. Embora o professor Fiori descarte a possibilidade de uma nova organização comercial nos moldes da OPEP, ele enfatiza que a expansão dos BRICS terá consequências profundas para a competição global nessas áreas.
A entrevista também aborda a importância histórica dessa ampliação dos BRICS e suas implicações para a busca por um contrapeso ao poder dos EUA e da Europa. O professor Fiori esclarece que o BRICS não é uma organização militar, mas enfatiza que a aliança entre Rússia e China já representa um contraponto militar significativo. Ele destaca que essa expansão coloca o BRICS como um ponto de referência incontornável no sistema internacional e pode, nos próximos anos, evoluir para um grupo de poder que desafia a dominação euroamericana.
No que diz respeito ao Brasil e sua liderança no BRICS, o professor Fiori rejeita a ideia de que o país tenha perdido influência, ressaltando que a ampliação dos BRICS pode ser vista como um esforço de recuperação do prestígio internacional perdido nos governos anteriores. Ele defende que a presença do Brasil na reunião de Joanesburgo reflete seu tamanho e posição atuais no mundo, após anos de mudanças na política externa.
A entrevista com José Luís Fiori traz uma análise abrangente sobre as implicações geopolíticas e econômicas da ampliação dos BRICS. Suas perspectivas oferecem insights valiosos sobre como esse movimento transformará a ordem global e o equilíbrio de poder no cenário internacional.