O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem comunicado aos seus parceiros políticos que não possui intenção de nomear novamente o procurador-geral Augusto Aras para liderar a Procuradoria-Geral da República (PGR). Durante suas discussões com apenas alguns de seus colaboradores próximos sobre este assunto, Lula não parece inclinado a manter Aras ocupando essa posição por mais um período de dois anos, apesar de contar com o respaldo de aliados como o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
A ausência de um candidato claramente preferido para a posição dentre os candidatos atuais é o motivo pelo qual Augusto Aras ainda é considerado como um possível nome, conforme avaliam aqueles próximos ao palácio.
O procurador-geral conta com o respaldo de certos setores da classe política, que enxergam sua postura firme contra eventuais “excessos” por parte da instituição.
Contra a possibilidade de sua reindicação, pesa o vínculo direto com o ex-presidente Jair Bolsonaro, bem como a avaliação proveniente de uma corrente do governo, que considera que houve falhas na contenção das ações de Bolsonaro durante o avanço da pandemia de Covid-19.
Na última quinta-feira, Lula recebeu Augusto Aras em seu gabinete, e durante essa reunião de uma hora e vinte minutos no Palácio do Planalto, Aras expressou críticas à Operação Lava-Jato e enfatizou que o próximo Procurador-Geral da República precisará desempenhar um papel fundamental na gestão equilibrada da ascensão de 80 procuradores regionais, que foram nomeados por Rodrigo Janot e Raquel Dodge. Conforme a lógica de sucessão natural dentro do Ministério Público, esses procuradores regionais chegarão aos cargos de maior destaque dentro da instituição.
Conforme apresentado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O GLOBO, o ponto enfatizado por Aras é que esse conjunto de procuradores regionais tende a possuir uma inclinação mais alinhada com os princípios da Operação Lava-Jato, o que acrescenta um elemento de estratégia significativo à decisão do presidente.
A reunião contou com a presença de Jaques Wagner e Jorge Messias, Advogado-Geral da União (AGU), ambos indivíduos com quem Lula tem dialogado sobre este assunto. Além disso, estiveram presentes os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Flávio Dino (Justiça), que também têm sido envolvidos nas conversas em torno dessa temática.
De acordo com aliados, a atitude de Lula ao convidar Aras para a conversa, reservando mais de uma hora de sua agenda para esse encontro e expressando a intenção de dialogar pessoalmente com os demais candidatos, reflete a postura do presidente em não transferir a responsabilidade da escolha para terceiros. Isso significa que ele está assumindo pessoalmente o processo de uma “entrevista informal” para a tomada de decisão.
A partir de setembro, Lula receberá os próximos candidatos para interações similares. Membros do governo que estão diretamente envolvidos no processo de seleção têm sustentado a opinião de que é crucial que todos os candidatos tenham a oportunidade de serem ouvidos pelo presidente. Eles também sublinham a relevância de Lula estar bem informado sobre as trajetórias individuais de cada um dos postulantes.
Devido à ausência de um candidato que se destaque como uma escolha óbvia até este momento, os ministros envolvidos nas deliberações não excluem a possibilidade de Lula escolher um candidato de transição para ocupar o cargo temporariamente, enquanto ele toma a decisão de forma mais ponderada e no momento que considerar apropriado.
O mandato de Augusto Aras chega ao fim em 26 de setembro. Caso até essa data Lula não tenha escolhido seu sucessor, a responsabilidade recairá sobre o vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), que será eleito por meio de votação agendada para o próximo dia 5 de setembro. A subprocuradora-geral da República Elizeta Maria de Paiva Ramos é considerada a principal candidata para ocupar essa posição.
Conforme reportagem do jornal O GLOBO, a corrida pela ocupação do cargo está se estreitando em relação a três indivíduos: o vice-procurador-geral Eleitoral Paulo Gonet e os subprocuradores-gerais Antônio Carlos Bigonha e Mario Bonsaglia. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já se reuniu individualmente com os três candidatos. Durante essas conversações, todos os postulantes manifestaram sua oposição à Operação Lava-Jato.
Gonet é apoiado pelos ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes; Bigonha conta com o respaldo do campo progressista, incluindo uma facção do PT e membros do grupo Prerrogativas.
Considerado o candidato menos provável, Bonsaglia é o único candidato dentre os três da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) que permanece na disputa. Ele recebe apoio de elementos do núcleo jurídico associado ao presidente, além de movimentos sindicais em São Paulo.
Com informações do GLOBO
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