Nesta quinta-feira, 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu as boas-vindas ao países que aderiram ao bloco do BRICS, formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Visivelmente satisfeito com o resultado das negociações na 15ª Cúpula em Joanesburgo, capital sulafricana, o chefe de estado brasileiro agiu como um gentleman internacional e estendeu o tapete vermelho para as seis nações agora aliadas.
“A relevância do BRICS é confirmada pelo interesse crescente que outros países demonstram de adesão ao agrupamento. Como indicou o Presidente Ramaphosa, é com satisfação que o Brasil dá as boas-vindas aos BRICS a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã”, disse Lula.
Analisando friamente, podemos concluir que o fortalecimento do BRICS vai além da maior representação no PIB global, que após essas adesões vai passar de 32% de 36%. A aliança também vai girar em torno da quebra do monopólio do dólar nas transações comerciais, favorecendo uma maior autonomia nas negociações, especialmente entre os países do Sul Global.
Além disso, sabemos que Arábia Saudita, Rússia, China, Irã e Emirados Árabes estão entre os oito maiores produtores de petróleo do mundo. No que diz respeito ao gás natural, podemos citar a própria Rússia, Irã, China e Arábia Saudita. Já China, Índia, Brasil e Rússia se destacam na produção agrícola. Vamos lembrar que outros 40 países já pediram adesão ao bloco.
Só que a grande novidade global já causou espanto e ódio em setores da mídia ocidental que reservam seus editoriais para atacar os países do bloco. Aqui no Brasil, a jornalista e comentarista de economia, Miriam Leitão, usou sua coluna no O Globo para fazer duras críticas ao bloco que ameaça a hegemonia dos EUA, por exemplo.
Primeiramente, a jornalista diz que “nunca houve uma verdadeira coesão entre os países que fazem parte dos BRICS”. Ora, se partirmos desse príncipio, teriamos apenas blocos monótonos e vazios no sentido de relações internacionais.
A graça do BRICS, digamos assim, está justamente nas particularidades e potenciais de cada país, está nas discussões e parcerias, sempre de forma democrática e em alto nível, que só acontecem por causa das diferenças. O que seriam de França e EUA, por exemplo, se não fossem as parcerias com nações que a príncipio são divergentes em muitos pontos? A resposta é simples, não seriam nada, apenas páreas de si mesmo.
No segundo momento, a jornalista acusa o fortalecimento do BRICS como “um movimento que só fortalece o projeto dos chineses de aumentarem sua influência global”. Além de ser uma demonstração do viralatismo aos interesses das potências ocidentais, essa afirmação não passa de um terraplanismo puro e simples. Sim, a China têm muito interesse na ampliação do bloco, mas os outros países, como o próprio Brasil, não os têm?
A grande diferença do BRICS está justamente no príncipio de igualdade, fraternidade e solidariedade entre os países do bloco, sem um alinhamento automático aos interesses de uma grande potência, como acontece nos acordos com EUA, por exemplo. Ou seja, no BRICS não há esse espírito imperialista. São nações que buscam se desenvolver juntas, em bloco, e não há nenhum problema nisso.
Em outra parte do seu artigo, Miriam Leitão trata o bloco como um simples “agrupamento” que “exibe contradições crescentes” e faz os seguintes questionamentos: “Por que o que poderia ser de fato esse grupo? Uma força de oposição aos Estados Unidos e ao Ocidente?”.
O questionamento é válido, porém desonesto. Por diversas vezes, o próprio presidente Lula expressou que não há interesse em abrir um front de confronto com o Ocidente, até porque o Brasil está localizado nele. Inclusive, mais cedo, o chefe de estado brasileiro falou o seguinte na cúpula:
“A presença, neste encontro dos Brics, de dezenas de líderes de outros países do Sul Global mostra que o mundo é mais complexo do que a mentalidade de Guerra Fria que alguns querem restaurar. Em vez de aderir à lógica da competição, que impõe alinhamentos automáticos e fomenta desconfianças, temos de fortalecer nossa colaboração”.
Ou seja, não há espaço para continuar fomentando a política do “dá ou desce”, como aconteceu nas últimas décadas sob o comando e imposiçao dos EUA. Ou seja, países como o Brasil, liderado por Lula, buscam relações mais democráticas, descentralizantes e avançadas. Mas, tudo indica que os porta-vozes dos interesses das grandes potências ocidentais ainda não estão preparados para essa conversa.