Por Jeferson Miola
Até os anos iniciais do século 21, Porto Alegre era mundialmente reconhecida e premiada pela inovação política, econômica e cultural que propiciou o desenvolvimento da cidade e da cidadania com radicalização da democracia e da concretização de direitos sociais.
Com as políticas públicas modernizadoras implantadas nos ciclos da Administração Popular [1989/2004], a capital gaúcha tornou-se uma referência concreta da possibilidade de construção de um Brasil e de um mundo pós-neoliberal.
Durante aquele período efervescente e criativo a cidade foi um verdadeiro laboratório de alternativas contrapostas à ditadura do pensamento único neoliberal.
No contexto, porém, da emergência do conservadorismo odioso que se reconhecia na retórica fascista de acabar com essa raça de petistas por pelo menos 30 anos [Jorge Bornhausen], o bloco dominante da cidade uniu-se no propósito central de derrotar a esquerda para, assim, interromper a continuidade da Administração Popular.
A eleição de 2004 inaugurou o ciclo de governos conservadores e neoliberais que vêm se revezando no comando da cidade nestes últimos 20 anos desde a mesma perspectiva programática conservadora e, a partir das duas últimas gestões, também ultraliberal.
Para a oligarquia hegemônica, a Prefeitura funciona como entreposto para as tenebrosas transações e os negócios de grupos privados, em especial da burguesia financeira-imobiliária consorciada com o monopólio midiático.
Estes setores se apoderaram do orçamento municipal e da renda da cidade por meio de mecanismos e estratégias conhecidas, como as privatizações e terceirizações de serviços e empresas estatais e da transferência de gestão de espaços públicos – como parques e áreas de lazer e convivência –, para particulares.
Tudo, claro, condimentado com uma corrupção acobertada por uma mídia cúmplice e comprada com generosas verbas de publicidade.
O desmonte de serviços públicos essenciais e o arrocho salarial do funcionalismo reforçam as fontes financeiras para a privatização e a drenagem do orçamento da Prefeitura e da renda da cidade. A gestão atual do prefeito bolsonarista Sebastião “Melnick”, do MDB, aprofundou este processo privatizante de maneira brutal.
Hoje, na terceira década do século, Porto Alegre nem de longe lembra aquela cidade que já encantou o mundo e foi exemplar com suas políticas democráticas e modernizadoras.
A cidade, comandada nas últimas duas décadas pela vanguarda do atraso, é atualmente um laboratório de retrocessos e contrarreformas neoliberais e antipopulares que fracassaram no mundo inteiro porque aprofundam injustiças e desigualdades e causam estagnação econômica.
Por conta disso, o PIB municipal, que em 2002 ocupava a 5ª posição no ranking nacional dentre as cidades brasileiras, despencou para o 8º posto em 2020 [IBGE].
Recuperar Porto Alegre desde a perspectiva democrática, popular e antifascista para interromper o ciclo de 20 anos de devastação e barbárie neoliberal, deve ser a prioridade central da esquerda e do campo progressista na eleição de 2024.